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Lexus, marca premium da Toyota, retorna para arrumar encrenca com alemãs

Lexus retorna com estilo americanizado para desafiar campeões europeus - Divulgação
Lexus retorna com estilo americanizado para desafiar campeões europeus Imagem: Divulgação

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

22/05/2012 21h13Atualizada em 22/05/2012 22h09

A Lexus, divisão de luxo e performance da Toyota, já vendeu seus carros no Brasil entre 1997 e 2007, dentro das lojas da marca-mãe. O retorno ocorre agora, após cinco anos de hiato e um boom do mercado de produtos de luxo, com uma nova filosofia: tratar cada cliente como exclusividade máxima, como se ele fosse (até porque ele acredita ser) o mais VIP de todos. E cobrar na mesma proporção que adula. 

Os executivos de Toyota e Lexus apresentaram na segunda-feira (21) a primeira, e por enquanto única, concessionária exclusiva da marca, que abre suas portas automáticas no dia 1º de junho, na zona sul da cidade de São Paulo, para vender inicialmente três dos quinze modelos e variantes da marca, todos importados do Japão. Nenhum deles custará menos de R$ 200 mil (nos Estados Unidos, o piso é de US$ 33.600 ou quase R$ 64 mil), todos terão padrão de conforto e de rodagem americanos, segurança garantida por pelo menos dez airbags, ABS com EBD e controle de tração, e o objetivo patente de rivalizar com modelos das alemãs Audi, BMW e Mercedes-Benz.

Apesar do atraso na retomada (pensada há três anos, mas só concretizada agora), a chave para o sucesso, segundo a diretoria japonesa, é conquistar pela fama de confiabilidade e de bons serviços da Toyota elevadas à potência máxima: o cliente é recepcionado por assistentes e manobristas, atendido apenas por gerentes em salas exclusivas e, se fechar a compra, presenteado com uma cesta de produtos finos, como champanhe francês e chocolate suíço. A garantia dos carros será de quatro anos, com a promessa de um pós-venda exemplar, que retorna carros da revisão em apenas uma hora (o primeiro serviço é agendado para os 10 mil quilômetros rodados ou um ano da compra), oferece carro reserva em caso de necessidade, conta com estoque de peças de maior necessidade e permite até o acompanhamento do reparo pela internet, através de câmeras nas oficinas.

Mas como São Paulo é a cidade mais importante do país (e responde por 35% das vendas de carros de luxo do Brasil), mas não é o centro do mundo, unidades avançadas de pós-venda deverão ser inauguradas em sete capitais do país (Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre e Fortaleza estão quase garantidas). Elas serão montadas dentro da estrutura das principais lojas da Toyota destas praças. Não há previsão para abertura de outras concessionárias Lexus nesta primeira fase.

OS QUATRO SAMURAIS
Em ordem crescente de preço, o primeiro carro do portfólio Lexus a ser vendido no país é o sedã médio IS300. Equipado com motor V6 de 214 cavalos de potência, câmbio automático de seis marchas e opção de trocas sequenciais por borboletas no volante, tem visual mais esportivo, desenvolvido pelo centro de estilo da Alemanha, com faróis e lanternas afiladas, iluminação por LED e xênon e a nova grade cromada da marca em forma de bobina (oficialmente chamada de Spindle Grille). O preço inicial será de R$ 218.500 e o alvo será colocado sobre BMW 328i e Mercedes-Benz C 250.

O seguinte é o RX350, SUV com porte de Hyundai Santa Fe equipado com motor V6 de 277 cavalos, tração 4x4 permanente, espaço para cinco pessoas e uma dura missão: ser a isca de vendas da marca. O preço de tabela é salgado: R$ 298 mil e apesar do coreano citado inicialmente, os concorrentes são, novamente, alemães: Audi Q5, BMW X5 e o renovado Mercedes-Benz ML.

O topo da gama, neste momento, é o LS460 L, sedã grande (são 5,18 metros de comprimento) com entre-eixos longo (3,09 metros) equipado com motor V8 de 347 cavalos, tração integral e foco no conforto e entretenimento para os bancos traseiros individuais, posição de honra para o patrão, que vai dispor de apoio para os pés, encosto reclinável, dois tipos e três intensidades de massagem, aquecimento e resfriamento de assento, DVD player e sistema de telefonia, todos comandados a partir de dois grandes controles remotos guardados sob o encosto de braço central. O preço é equivalente a quase quatro Toyota Camry, R$ 615 mil. Os rivais são o Audi A8, o BMW Série 7 e o Mercedes-Benz Classe S.

Em novembro, chega o quarto modelo: o sedã ES350 com visual renovado terá preço em torno de R$ 390 mil e mira certa sobre Audi A6, BMW Série 5 e Mercedes Classe E. As armas de combate são o mesmo trem-de-força do SUV e equipamentos multimídia premium.

A marca não descarta trazer as variantes híbridas de seus modelos (LSh e RXh, por exemplo), mas afirmou que ainda estuda os efeitos da gasolina brasileira sobre o trem-de-força dos Lexus e que este acerto é muito mais difícil de ser realizado com decência do que aquele feito no conjunto de rodas e suspensões. 

E apesar de afiar a espada, a Lexus não espera derrotar definitivamente nenhum dos adversários observados. Segundo um diretor da marca confidenciou a UOL Carros, espera-se os patamares de venda se equilibrem em cerca de 10% de participação nos segmentos em que cada um dos modelos da marca concorrerá. E isso dentro de três anos. Para alcançar este ponto, o RX350 deve responder por 40% do mix de entregas da Lexus, seguido pelo ES350 (35%), IS300 (20%) e LS460 L (5%). 

COMO ANDA O RX350
Marca e modelos apresentados, UOL Carros participou de um teste rotativo entre os três carros da Lexus já disponíveis -- tanto como motorista, como passageiro --, no trajeto predominantemente rodoviário entre a capital paulista e a cidade de Campos do Jordão, destino de inverno que é a Meca dos endinheirados que podem se interessar por um Lexus.

Apesar da pompa com que os carros e serviço foram mostrados, não é necessário muito para perceber que a Lexus joga com uma dose elevada de pretensão ao desafiar os alemães para a dança, sobretudo na faixa de preços estipulada. Isso porque enquanto um alemão é quase sempre apontado como paradigma do setor automotivo em termos de conforto, estilo ou performance, nenhum dos carros da Lexus se destaca em qualquer dessas áreas, embora tenham méritos em alguns pontos.

E o principal deles é o conforto. Quem ocupa um assento a bordo do Lexus é convidado a relaxar em verdadeiras "poltronas do papai", bem ao gosto americano, com estofamento farto, ombros altos e largos, suportes laterais e, no caso do sedã grande de luxo LS460 L, apoio para pés, encosto reclinável, massagem (com direito a shiatsu) e uma central multimídia com controle remoto.

Sem sutileza, Lexus RX350 chama SUVs alemães de cópias

A marca acerta ao escolher o RX350 como ponteiro de sua linha, uma vez que o SUV é o modelo que mais se aproxima do gosto por carros do brasileiro, mesmo que este passe boa parte de seu tempo sorvendo do estilo de vida americano nas ruas de Miami. O sedã IS300 dá a ideia do que seria um Corolla realmente esportivo, com motor V6 -- apesar de andar rápido, tem o mesmo requinte e estilo do do médio japonês (e isso é ruim num carro que custa três vezes mais) e trata mal as pernas de quem viaja atrás. Já o enorme LS460 L é tudo o que o patrão queria em termos de conforto, com espaço de sobra para ler o jornal e mandar os relatórios do laptop, e mimos suficientes para relaxar praticamente deitado na volta do escritório, enquanto o "Jarbas" se vira com a latência do motorzão V8 e do câmbio de oito marchas.

O SUV, por sua vez, oferece espaço para cinco pessoas, com sobra para pernas, ombros e cabeças, e tranquilidade para transportar compras e bagagens -- a porta do compartimento tem acionamento elétrico e a capacidade é ampla, com 1.132 litros. O acabamento pode decepcionar quem prefere o estilo alemão: todos os materiais utilizados têm ótima qualidade, mas nenhuma das soluções, do contorno dos painéis ao formato dos botões, vai arrancar elogios empolgados. A exceção aqui é o quadro de mostradores, cuja iluminação azulada faz com que os desavisados pensem estar mirando uma tela de LCD. A tela real, posicionada mais à direita, ao centro do painel, comanda os recursos do computador de bordo, de climatização, multimídia, de telefonia (com Bluetooth) e navegação, mas com tropeços: o GPS só irá funcionar com a atualização dos mapas brasileiros a ser feita em novembro.

A posição de direção é típica de um carro moldado ao gosto americano, o que faz o SUV rodar sem bufar ou rosnar e com suavidade até excessiva em alguns momentos (a suspensão não filtra toda a falta de finesse de nossas pistas). Ainda assim, o RX350 não chega a adernar em curvas mais fechadas. Apesar do visual muitíssimo conservador da alavanca de câmbio, a transmissão de seis marchas tem funcionamento similar ao da contra-parte utilizada nos modelos da Toyota, com precisão exemplar. E nada além.

Tudo o que dissemos, no entanto, não assusta os representantes da Lexus, que acreditam justamente no poder da distância em relação aos alemães para se dar bem. Afinal, quem acha o jeito de Audi, BMW e Mercedes espalhafatoso demais pode encontrar na tranquilidade tradicionalmente americana de um Lexus o refúgio para seu rico dinheiro.