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Fernando Calmon

Mercado de carros cresce, mas Brasil sofre para competir com estrangeiros

<b>Custo Brasil: Em dois anos, será mais barato importar carro da China, pagando imposto de 35% e frete, do que produzir aqui no país, revela um executivo</b> - Patricio Murphy / Brazil Photo P
<b>Custo Brasil: Em dois anos, será mais barato importar carro da China, pagando imposto de 35% e frete, do que produzir aqui no país, revela um executivo</b> Imagem: Patricio Murphy / Brazil Photo P

FERNANDO CALMON

Colunista de UOL Carros

21/06/2011 18h40

Apesar dos percalços, o mercado argentino se integra cada vez mais ao brasileiro e vice-versa. Bom exemplo é o Salão do Automóvel de Buenos Aires. Teve início modesto em 1998 e apenas cinco edições entremeadas pelas crises econômicas no país vizinho que atingiram sua indústria automobilística. Desde 2005 passou a ser organizado nos anos ímpares e assim se intercalar com o Salão de São Paulo, nos anos pares.

A exposição bienal em 2011, de 17 a 26 deste mês, tem público previsto em torno de 500.000 pessoas, segundo os organizadores. Se considerarmos a proporção dos dois mercados o número surpreende, pois com toda a tradição é difícil São Paulo atrair mais de 600.000 a 700.000 visitantes.

O otimismo quanto ao crescimento dos dois mercados marcou o Salão de Buenos Aires. No entanto, a capacidade da indústria instalada competir com veículos importados já não parece tão clara. Um executivo brasileiro, que pediu anonimato à coluna, fez as contas: em 2013, se nada for mudado para aumentar a competitividade, sairá mais barato importar um modelo compacto da China, pagando imposto de 35% e o frete, do que produzir aqui.

Há outros sinais claros sobre essas dificuldades, como a escalada dos custos de mão de obra evidenciados na longa greve de 37 dias enfrentada na fábrica paranaense da Volkswagen. A vizinha Renault pagou o que o sindicato pediu para evitar uma parada às vésperas de um lançamento. A japonesa Mazda volta ao mercado brasileiro no próximo ano, mas mas preferiu abrir uma fábrica no México. A BMW anunciou que planeja produzir na América Latina. O Brasil, ainda candidato, enfrenta a forte concorrência mexicana pelo investimento da marca alemã.

De oportunidade em oportunidade perdida, o país precisa decidir o que quer da vida em termos industriais. Consolidar-se como polo produtivo e exportador ou simplesmente passar a importar carros completos ou desmontados com baixo conteúdo local.

EM BREVE, NA GARAGEM
Essa edição do salão portenho apresenta grandes novidades para os dois mercados. Os fabricantes aproveitaram o bom momento para antecipar o que chega nos próximos meses. Entre as surpresas o Chevrolet Cobalt, novo sedã compacto desenvolvido na Coreia do Sul com participação brasileira. Embora apresentado como carro-conceito e superequipado, está pronto para o lançamento nesse segundo semestre, sucedendo o Corsa sedã. A nova picape S10 surgiu disfarçada como Colorado (nome nos EUA) na versão Rally. Retirados os pesados adereços, é o mesmo produto que será lançado aqui logo no início de 2012.

A Ford também antecipou como será a nova Ranger, mostrada antes no Salão da Austrália, em outubro do ano passado. Fabricada na Argentina e prevista para meados de 2012, pôde ser apreciada por inteiro em versão definitiva, inclusive o interior evoluído da cabine dupla. A Renault exibiu o utilitário esporte compacto paranaense Duster que chegará em quatro meses. A SpaceCross, versão aventureira da station argentina SpaceFox, está pronta e prevista para agosto.

O Fiat 500 mexicano estreou para o mercado argentino com o motor 1.4 Multiair, de 102 cv, fabricado nos EUA. E a Nissan surpreendeu ao exibir o Sunny, sucessor do Tiida sedã, que também virá do México, em 2012.

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AUTOMÁTICOS
Aumenta aos poucos a oferta de câmbio automático em modelos mais acessíveis. Renault terá essa opção no Sandero e também no Logan até agosto. É unidade convencional, com conversor de torque, fabricada na França pela STA, subsidiária da marca. Câmbio robotizado, mesmo de produção nacional, foi desconsiderado.

ÚLTIMA FORMA
Fiat 500 terá motor flex (1,4 Fire Evo) e também câmbio de cinco marchas produzidos no Brasil e exportados para o México, de onde virá sem imposto. Para compensar os 12 cv a menos em relação ao motor atual, utilizará marchas mais curtas que as da atual caixa de seis velocidades. Futuro Multiair flex virá dos EUA, mas com desenvolvimento brasileiro.

A DIESEL, MAIS CARO
O Land Rover Freelander 2 agora dispõe de motor diesel com turbocompressor de geometria variável de 2,2 l/190 cv/43 kgfm e autonomia de até 972 km, segundo a Land Rover. O preço, como todo diesel, é um pouco puxado: de R$ 130.000 a R$ 173.000. Motor de seis cilindros em linha a gasolina, 3,2 l e mais 43 cv custa R$ 7.000 a menos: ideal para quem roda menos.

DOWNSIZING
Investimento na nova fábrica da BorgWarner, em Itatiba (SP), totaliza R$ 70 milhões. Capacidade de produção de turbocompressores subirá de 300.000 para 500.000 unidades/ano. Para alcançar esse volume a empresa conta que motores turboflex, na faixa de 1 a 1,4 litro de cilindrada, serão ofertados no Brasil visando a menor consumo de combustível.

NÃO SÓ PARA CRIANÇAS
Segunda animação da Disney Pixar sobre automóveis, Carros 2 estreia dia 24 deste mês. Filme em 3D vale ainda mais a pena de ser assistido por quem tem conhecimentos automobilísticos para perceber sutilezas e bom humor dos diálogos. Prende a atenção dos menos iniciados pelo ritmo acelerado e enredo mais apurado do que no primeiro filme.