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Quem é o cérebro que conseguiu a libertação de Carlos Ghosn no Japão

Takashi Takano é um dos advogados de Carlos Ghosn - Behrouz MEHRI/AFP
Takashi Takano é um dos advogados de Carlos Ghosn
Imagem: Behrouz MEHRI/AFP

Lisa Du e Kae Inoue*

10/03/2019 07h00

Resumo da notícia

  • Takashi Takano convenceu o Tribunal de Tóquio a liberar Carlos Ghosn sob fiança
  • Advogado é famoso por ir contra a corrente e estar disposto a assumir casos difíceis

A aposta de Carlos Ghosn em uma nova equipe de advogados deu frutos nesta semana, graças a um advogado que orquestrou sua libertação sob fiança após mais de 100 dias em uma prisão em Tóquio.

Takashi Takano, membro da equipe de defesa de elite chamada depois que o ex-presidente do conselho da Nissan Motor e da Renault demitiu seu primeiro advogado, convenceu o Tribunal Distrital de Tóquio e o próprio Ghosn a aceitarem os estritos termos da fiança, após duas tentativas malsucedidas. Então, como em uma cena de filme, ele disfarçou seu cliente de operário de construção e levou-o para seu escritório em Akihabara, o bairro de produtos eletrônicos iluminado por luzes de neon de Tóquio.

O homem de 62 anos é um personagem nos círculos legais do Japão, conhecido por ir contra a corrente e estar disposto a assumir casos difíceis, como um envolvendo um assassinato em massa. Junichiro Hironaka, o rosto público da equipe de defesa de Ghosn, disse que nem mesmo ele sabia da brincadeira da quinta-feira, e atribuiu tudo a Takano.

"Fiquei surpreso quando soube", disse Hironaka, cujo apelido é "A Navalha" e também é um advogado famoso. "Eu achei engraçado e bom. Ouvi dizer que ele se divertiu com isso".

SENSAÇÃO

Se a libertação sensacional de Ghosn servir de indicação, a saga que fascina o Japão provavelmente continuará com muita ação, porque sua equipe está preparando um contra-ataque contra as acusações de falsificação de registros financeiros e de abuso de confiança. É uma abordagem mais agressiva que eles apostam que os colocará no raro grupo de menos de 1 por cento dos réus que venceram o sistema legal.

Os promotores japoneses dizem que Ghosn se envolveu em um padrão de má conduta financeira. Ele nega qualquer irregularidade e argumenta que as acusações resultam de uma conspiração dentro da Nissan para bloquear seu plano de fusão com a fabricante de veículos Renault, sua maior acionista.

Quando Takano começou a trabalhar, em menos de 48 horas o terceiro pedido de fiança de Ghosn para que ele fosse libertado foi concedido, a apelação do promotor foi rejeitada e 1 bilhão de ienes (US$ 9 milhões) de fiança foram pagos. "Sou grato a Takano-san", disse Hironaka. "Ele é especialista em fianças e tem todo o know-how".

Takano não estava disponível para comentar, mas explicou em uma postagem de blog nesta sexta-feira que ele só estava tentando garantir que Ghosn não seria seguido até o lugar onde vai morar ou assediado pela imprensa e pelos curiosos. "O plano falhou", escreveu Takano, e disse que a exposição "enlameou sua vida de fama".

Ghosn está agora com a família na residência onde ficará, na prática sob prisão domiciliar, com acesso limitado a informações e pessoas, escreveu Takano em sua postagem.

*Com a colaboração de Jeff Sutherland