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Não adianta buzinar: o robô autônomo ao volante ainda não vai te escutar

Mary Barra, CEO da General Motors, e Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, ao lado de uma unidade do Chevrolet Bolt - Nicholas Kamm/AFP
Mary Barra, CEO da General Motors, e Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, ao lado de uma unidade do Chevrolet Bolt
Imagem: Nicholas Kamm/AFP

Ryan Beene

21/10/2017 04h00

Não foi tão grave, mas aconteceu: às 11h48 de um dia fresco de junho, a traseira de um Chevrolet Bolt foi atingida quando avançava lentamente depois de ter parado em um semáforo no centro de São Francisco.

O que chamou a atenção nessa pequena batida foi o motorista do Bolt: um computador.

Na Califórnia, onde empresas como Cruise Automation e Waymo estão intensificando os testes de carros 100% autônomos, os motoristas humanos continuam batendo neles em colisões em baixa velocidade. Essas colisões ressaltam um conflito cultural entre seres humanos, que muitas vezes tratam leis de trânsito como diretrizes, e robôs autônomos, que se recusam a passar em sinal vermelho ou exceder o limite de velocidade.

"Eles não dirigem como pessoas. Eles dirigem como robôs", afirma Mike Ramsey, analista da Gartner especializado em tecnologias automotivas avançadas. "Eles são estranhos, e é por isso que são atingidos", complementa.

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Imagem: Reprodução

Cautela robótica

As empresas agora estão testando veículos autônomos de Phoenix a Pittsburgh, também nos EUA, e os desenvolvedores estão observando de perto como eles interagem com os motoristas humanos para se preparar para um futuro em que ambos compartilharão ruas.

Eles concluíram que, embora pessoas possam ter medo de um veículo descontrolado sem um motorista ao volante, a realidade é que os veículos autônomos são excessivamente cautelosos. Eles avançam devagar depois de parar completamente diante de uma placa de "Pare" e obedecem ao pé da letra às leis, ao contrário de nós.

"Suavizar essa interação é justamente uma das tarefas mais importantes para os desenvolvedores da tecnologia", informa karl Iagnemma, CEO da desenvolvedora de software de direção autônoma NuTonomy. "Se os carros dirigirem de um jeito muito distinto ao modo em que todos os outros motoristas nas ruas dirigem, no pior dos casos, haverá acidentes, e, na melhor das hipóteses, frustração", disse. "Isso vai levar a uma menor probabilidade de que a população aceite a tecnologia", completou.

Os sensores incorporados aos carros autônomos permitem que eles "vejam" o mundo com muito mais precisão que os seres humanos, mas os carros têm dificuldade para transformar as pistas visuais das ruas em previsões sobre o que poderia acontecer a seguir, garante Iagnemma. Além disso, eles também têm dificuldade para lidar com situações novas e desconhecidas.

Mais de 30 acidentes desde 2016

A Califórnia é o único estado que exige relatórios de quando um veículo autônomo se envolve em um acidente. Os registros mostram que os carros em modo autônomo foram atingidos na parte traseira 13 vezes desde o início de 2016, do total das 31 colisões que envolveram carros autônomos, de acordo com o Departamento de Veículos Motorizados da Califórnia.

"Você coloca nas ruas um carro que pode estar dirigindo rigorosamente de acordo com a lei, mas, em comparação com os demais usuários ao redor, ele está agindo de forma muito conservadora", disse Iagnemma. "Isso pode levar a situações em que o carro autônomo seja um peixe fora d'água."

Uma porta-voz da Cruise, que foi adquirida pela General Motors no ano passado, disse que os relatórios de acidentes falam por si mesmos.