Chrysler quer crescer e aparecer no Brasil sem Fiat e com seis carros novos
A Chrysler tem planos ambiciosos para o Brasil em 2012: lançar seis novos carros em seis meses a partir de fevereiro próximo, dobrar de tamanho, chegar a 50 revendedores e vender mais de 11 mil unidades.
O diretor-geral Sérgio Ferreira conversou com UOL Carros no Cobo Center (sede do Salão de Detroit) e explicou que o processo de reestruturação do grupo -- além da Chrysler, há as marcas Dodge, Jeep e Ram, e a nova dona, a Fiat -- já foi iniciado, mas que o caminho do crescimento terá de ser percorrido degrau a degrau.
O primeiro passo é diversificar a linha de produtos: o SUV compacto Jeep Compass, já exibido nas lojas do Brasil, será lançado em menos de um mês, e por menos de R$ 100 mil. Depois virão o crossover Dodge Durango, a picape pesada Ram 2500 e a nova geração do sedã grande Chrysler 300C. Mais dois modelos, não revelados, completam o desembarque até julho.
Com a linha mais robusta, será a hora de mostrar ao cliente brasileiro onde comprá-la. "Para expandir, precisamos também de rede, que é um pilar importante, sobretudo para uma marca premium", afirmou o executivo, referindo-se ao modo que a Chrysler é vista no Brasil (mas não nos Estados Unidos). "Atualmente os compradores não têm uma experiência da Chrysler, e muitos acham que estão numa revenda multimarcas", explicou.
A Chrysler quer extinguir os resquícios da finada parceria com a Mercedes-Benz e redefinir a rede atual, de 36 lojas, chegando ao total de 50 até o final do ano, promete Ferreira. Simultaneamente, haverá num processo de qualificação das revendas, para que a companhia possa concorrer com marcas locais e também bandeiras estrangeiras do segmento premium.
Curiosamente, a rede da Fiat -- que passou a controlar a Chrysler globalmente -- será deixada de lado neste processo. "As marcas são complementares, mas é improvável ter um ponto de venda com as bandeiras Fiat e Chrysler", garante Ferreira. Tirando o jargão corporativo e sua obsessiva compulsão por sinergia, fica claro que a fama de "marca barata", imagem da Fiat do Brasil, não interessa à Chrysler, que mira o exemplo das premium alemãs.
NÃO É PARA O SEU BICO
Uma das estreias mais esperadas da Chrysler americana em Detroit foi a do novo Dart, primeiro modelo a atravessar a fronteira da Europa para a América após a assimilação do grupo pela Fiat. Se Dodge Journey fez o caminho inverso e virou Fiat Freemont, agora a Alfa Romeo emprestou a plataforma do Giulietta para que a marca Dodge produzisse seu novo sedã.
Mas bata a mão na boca quem disser que verá um novo "muscle car", ao estilo do Challenger. Se o Dart original se valia da força bruta para agradar, este mostra ser filho dos novos tempos e se gaba do excesso de tecnologia embarcada para se diferenciar.
Reid Bigland, o presidente da Dodge, encheu a boca para falar que o sedã com DNA italiano tem conectividade típica de um smartphone (o carro pode listar serviços como posto de combustível, restaurantes e cinemas em seu painel totalmente digital, se localizar no Google Maps e até "dedurar" por onde o filho menor andou, e a que velocidade), sem abrir mão do conforto, segurança e, claro, potência.
Visualmente, o novo Dart parece uma evolução do Chrysler Neon, com rodas bem espalhadas e bom espaço interno. Tudo na cabine é suave ao toque. Há dez airbags, sensores de ponto-cego e câmera de ré. O motor é o italiano Multiair (da mesma família do Fiat 500), de 1,4 litro turbinado, 2 ou 2,4 litros, e se não chega perto da configuração em V (heresia para alguns) consegue entregar de 162 a 184 cavalos, com consumo estimado de 17 km/l, meta imposta pelo governo.
Muita gente cravou e aposta que o Dart irá para o Brasil na forma de um modelo Fiat. Ela e a Chrysler negam: o sedã é premium demais, recheado demais, grande demais para ser, por exemplo, um novo Linea. Pior: ele só é fabricado nos Estados Unidos (em Belvidere, Illinois), de onde sairia pagando muito imposto para a categoria médio-compacto. Não há espaço para produzi-lo no México ou em Betim (MG).
Mas, de tanto negar a relação entre Dart e Linea, as marcas abrem espaço para outro raciocínio: ele poderia ser, então, uma parceiro de três-volumes para o Bravo? O tempo dirá.
*Viagem a convite da Anfavea
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