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Peugeot 3008 chega com 'generosidade tecnológica' e ótimo motor

Peugeot 3008 integra a fileira dos crossovers e será vendido no Brasil a partir de R$ 79.900 - Divulgação
Peugeot 3008 integra a fileira dos crossovers e será vendido no Brasil a partir de R$ 79.900 Imagem: Divulgação

Claudio de Souza

Do UOL, em Puerto Iguazú (Argentina)

09/11/2010 22h22

A Peugeot apresentou nesta terça-feira (9), em Puerto Iguazú, na Argentina, o 3008, que a marca francesa classifica como um crossover -- no caso, misturando características de SUV (robustez), hatch (dirigibilidade) e minivan (praticidade). O carro deve chegar às lojas brasileiras a partir do próximo dia 20, em duas versões: a Allure, de entrada, vai custar R$ 79.900, e a Griffe, completíssima, chega a R$ 86.900.

Conhecer os rivais do 3008 ajuda a posicioná-lo no mercado: seus alvos admitidos pela Peugeot são o Honda CR-V e o Chevrolet Captiva com motor de quatro cilindros. A marca não cita, mas seu crossover corre na mesma pista do C4 Picasso -- fabricado pela Citroën, "irmã" da Peugeot no grupo PSA.

Apresentado inicialmente como o conceito Prologue no Salão de Paris de 2008, vendido na Europa desde 2009 e destacado por ter sido escolhido para, no ano que vem, ganhar uma versão híbrida combinando um motor elétrico com um de combustão a diesel, o 3008 chega ao Brasil quase como "carro de imagem" da Peugeot. Enquanto o esportivo RCZ e -- quem sabe -- o sedã 508 não desembarcarem por aqui, o crossover será o topo da gama da marca entre nós.

O QUE HÁ NUM NÚMERO

O nome 3008 do crossover da Peugeot segue a mesma lógica dos demais modelos da marca identificados por numerais.
O primeiro dígito refere-se ao segmento do carro -- no caso, o "3" identifica um veículo de porte médio (como no caso do 307).

Já o dígito final refere-se à geração do modelo. No caso do novo crossover, ele está alinhado à oitava fornada de veículos da marca -- especificamente ao 308, vendido na Europa e ainda inédito no Brasil, e também ao 408 e 508, aguardados para 2011.

Já o uso de dois zeros, em vez de um, significa que o carro tem alguma característica diferenciadora. Ou seja, o 3008 é 3008 porque é um crossover, reunindo elementos de mais de um segmento.

A previsão inicial de vendas é de 200 unidades por mês, volume máximo que a fábrica de Sochaux, na França, consegue entregar para o Brasil. Assim, o 3008 vai preparando o terreno para a chegada dos já citados RCZ e 508, além do sedã 408, confirmado para março de 2011. Todos esses carros têm a pretensão de situar a Peugeot alguns degraus acima de seu atual patamar -- não só de imagem, mas também de emplacamentos. A marca projeta crescer no Brasil cerca de 11% este ano (acima do mercado, com 7%), e quer dar um vigoroso salto no ano que vem, avançando 22% (quase quatro vezes o previsto para o mercado) e chegando a 110 mil carros vendidos no Brasil.

Para cumprir sua missão, o 3008 chega ao país com dois grandes apelos de venda, um mais voltado ao consumidor comum, outro para os entusiastas de automóveis. No primeiro caso, trata-se do megapacote de equipamentos -- que a Peugeot descreve como "generosidade tecnológica". No segundo, de um motor moderno, desenvolvido em conjunto com a BMW e grenciado por uma transmissão automática cuja base a Peugeot usa em carros com motor V6.

Entre outras coisas, tanto o 3008 Allure quanto o Griffe possuem o "head-up display", uma telinha acrílica acima do painel que mostra informações sobre a velocidade, visíveis apenas para o motorista (o display pode ser recolhido); ESP (controle de estabilidade) englobando ABS (antitravamento dos freios), ASR (antiderrapagem), AFU (assistente de frenagem de urgência), assistência em ladeiras (o 3008 dá 2 segundos de lambuja para que o motorista saia sem andar para trás) e distribuidor de força de frenagem; freio de estacionamento elétrico e automático; computador de bordo (igual ao do C4 Pallas); ar-condicionado dual zone com detector de poluição -- para compreender melhor esse mimo, vale observar que o sistema bloqueia a entrada de ar externo no habitáculo até quando é engatada a ré, para que os gases não sejam sugados para dentro; e oito airbags.

Os R$ 7 mil a mais pedidos pelo 3008 Griffe justificam-se pelo teto panorâmico (que eleva o envidraçamento para mais de 5,3 m²), sensores de farois e de chuva, retrovisor eletrocrômico e revestimento em couro nos bancos.

Quanto ao motor, trata-se de um digníssimo representante da onda de "downsizing" que vem se formando a partir da necessidade de mais eficiência com menos gasto. O propulsor Peugeot-BMW (ou seria BMW-Peugeot?), somente a gasolina, batizado de THP, entrega 156 cavalos de potência e 24 kgfm de torque -- números de 2.0 -- com apenas 1,6 litro de capacidade. O "segredo" é um turbo de alta pressão concebido para trabalhar desde cedo e dispersar o mínimo de energia. Um sinal disso é que o torque máximo aparece já a meras 1.400 rotações. Já a transmissão de seis marchas (com opção de trocas manuais) foi adaptada do câmbio usado em modelos como o Peugeot 407 V6, não guardando relação com o sistema usado nos demais carros 1.6 da Peugeot (como o 207).

VÍDEO OFICIAL DO PEUGEOT 3008

  • Veja detalhes do novo crossover francês em vídeo de divulgação distribuído pela Peugeot

PRIMEIRAS IMPRESSÕES
É importante analisar o 3008 a partir de suas pretensões: a de ser um "carro 3-em-1", como dito acima neste texto.

A faceta SUV do modelo é a menos aparente. A dianteira agressiva, com a grade "bocão" e detalhes em preto, mais as molduras e até mesmo o posicionamento das lanternas traseiras guardam uma vaga semelhança com um utilitário esportivo de verdade. Não dá nem para dizer que a suspensão elevada ajuda na caracterização, simplesmente porque a suspensão não é elevada. E, no geral, as linhas da carroceria são mais delgadas do que pediria a (ainda) habitual quadratura dos SUVs -- o teto panorâmico da versão Griffe é definitivo nessa dissociação de design.

A faceta hatch ficou mais evidente na hora de dirigir o 3008: seu comportamento é mesmo o de um carro baixo e "no chão". A suspensão traseira, dotada de barra estabilizadora com um terceiro amortecedor (horizontal), que faz hidraulicamente o contrabalanço da pressão das duas peças verticais, passa uma sensação de segurança típica de um carro que gosta de encarar curvas sem dar sustos no motorista. Só que 80% do nosso test-drive em estradas da Argentina, nesta terça, aconteceram sob uma violenta tempestade, o que impediu ousadias na condução. Daí dizermos que o 3008 passou "uma sensação de segurança", mas não afirmarmos isso categoricamente.

Já a faceta minivan é a mais conspícua. A começar do porta-malas, que tem 512 litros, tampa inferior escamoteável (como numa picape), divisão horizontal para receber cargas mais leves na altura dos braços do usuário e, com rebatimento total dos bancos, uma capacidade final de 1.604 litros. Tudo muito conveniente para ir às compras ou fazer uma viagem levando a bordo quatro pessoas e suas tralhas. Se o motorista (ou, no caso, mais possivelmente "a" motorista) quiser, a posição de dirigir pode ter o ponto H razoavelmente elevado, graças ao ajuste de altura (manual) do assento -- o 3008 mede apenas 1,63 metro. Na versão Griffe, com acabamento em couro, os bancos dianteiros têm aquecimento elétrico.

Envolvido por um painel moderno, que forma peça única com o console central e transforma seu campo de ação numa espécie de cockpit aeronáutico (desconte o exagero, por favor), o qual conta até com comandos em forma de chave (mais bacanas que o head-up display, diga-se), o motorista do 3008 tem a surpresa mais agradável quando gira a chave e pisa no acelerador. Fora não precisar nem soltar o freio de estacionamento, percebe-se logo o carro ganhando velocidade de modo incisivo; as marchas evoluem sem trancos, de modo quase imperceptível. Quando foi preciso ultrapassar, uma pisada mais forte no acelerador provocou um confiável kickdown, descendo de sexta para terceira sem hesitações, e garantindo uma operação segura. Realmente impressionante, porque o carro pesa 1.660 quilos.

O conforto a bordo é realçado por uma rodagem suave (as rodas de aro 17 são calçadas por pneus 225/50) e um ruído do motor na cabine quase desprezível. O que faz barulho mesmo é o vento frontal, que tem um generoso parabrisas para atingir.

Não foi possível avaliar o consumo -- também não divulgado pela Peugeot --, mas o tanque de 60 litros certamente garante uma autonomia interessante para viagens mais longas. A velocidade máxima, segundo a fabricante, é limitada em 202 km/h, e o 0 a 100 km/h pode ser feito em ágeis 9,5 segundos.

Viagem a convite da Peugeot do Brasil