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Citröen C4 Pallas muda na linha 2010, mas é difícil perceber

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

29/06/2010 16h17

Quando o telefone tocou, há duas semanas, e um Citroën C4 Pallas da linha 2010 foi oferecido para avaliação ficou impossível segurar a imaginação. O novo modelo teria alguma alteração significativa, mudanças na frente e traseira remodelada? A mesma ligação, porém, tratou de apagar esta imagem virtual e definir a verdade: o modelo que chegou às lojas sem maior divulgação traz apenas dois rearranjos internos e um novo tom de pintura, nada gritante ou realmente expressivo. Talvez você até já o tenha visto na rua, ou na vaga ao lado da sua na garagem, sem perceber.

  • Murilo Góes/UOL

    Citroën C4 Pallas manteve visual na linha 2010; (poucas) mudanças, só por dentro

A nova opção de pintura é a Gris Cendré, um cinza pérola que tende a ficar marrom dependendo da iluminação, e que você vê no carro das fotos que ilustram esta reportagem. Este tom de cinza substitui o Gris Grafito, mais escuro. Por dentro, nada mais de conta-giros sobre o volante: o arco que abrigava o mostrador digital deixou de existir e a informação agora está dentro do painel central, formando um semicírculo no canto esquerdo com a marcha inserida; com a mesma atualização de software, toda a parte gráfica do painel foi (ligeiramente) modificada e agora está alinhada às minivans C4 Picasso e Grand C4 Picasso. Por fim, a saída de 12V do console central (ao lado da alavanca do freio de mão) foi substituída por duas entradas -- uma USB/iPod, outra AUX-in -- completando a boa conectividade do sistema de som, que já contava com rádio, leitor de CD e Bluetooth (telefone).

NEGÓCIO DA CHINA

  • Divulgação

    As três imagens de divulgação deste quadro mostram como ficou o C-Quatre, remodelado para o mercado chinês, ainda no primeiro semestre de 2009.

  • Divulgação

    Embora a frente tenha mudado pouco, ganhando apenas o bocão típico de novos modelos da marca e faróis de neblina rearranjados, a traseira foi renovada ao adotar lanternas horizontais e formato mais quadrado para o porta-malas, como no sedã C5.

  • Divulgação

    Por dentro, o volante perdeu o conta-giros, que foi parar no painel central... e foi esta a única mudança aplicada ao nosso C4 Pallas.

Parece pouco, e talvez seja mesmo. Há mais de um ano, em abril de 2009, o mercado chinês recebeu o face-lift da versão local do C4 (veja  neste link uma imagem do modelo no Salão de Xangai, e saiba mais no quadro ao lado). Das mudanças implementadas no sedã vendido na China, só uma está presente no C4 nacional: o volante sem o conta-giros acoplado. Além disso, recentemente a Citroën francesa revelou imagens e detalhes da nova geração do hatch C4 (mais detalhes no parceiro Interpress Motor), que deixa a atual obsoleta.

Desta forma, talvez o principal atrativo do C4 Pallas 2010 esteja mesmo no preço, que começa em R$ 59 mil, válido para a versão GLX, com frete para São Paulo (SP), mas sem contar com os R$ 950 da pintura metálica. Tanto é assim que a Citröen não faz grande divulgação do modelo -- os tempos de anúncio com o astro-problema Kiefer Sutherland ficaram para trás, junto com o declínio e fim da série que tinha o ator como protagonista. Nem mesmo o site da marca fala do modelo 2010: por lá, o preço é o atual -- R$ 58.990 -- mas as fotos mostram o modelo antigo, com seu conta-giros âmbar sobre o volante multifuncional.

Por este valor, o modelo entrega ótimo espaço interno (são 4,77 metros de comprimento, com 2,71 m de entre-eixos; na largura, 1,77 m; no porta-malas, 580 litros), bom nível de conforto (contam pontos a boa disposição dos bancos, os faróis com regulagem elétrica, o volante com regulagem de altura e profundidade e o agora amplamente conhecido miolo fixo, bem como o ar-condicionado de duas zonas e o sistema de som citado três parágrafos acima) e de segurança (airbag duplo, freios com antiblocante, distribuidor eletrônico de força e frenagem de emergência, além do sistema Isofix de ancoragem para cadeirinhas).

Mas também há problemas, seja de visibilidade lateral e traseira, prejudicadas pelo tamanho excessivo da carroceria, ou de acabamento, cuja qualidade (infelizmente) tem caído em proporção inversa à idade do modelo no mercado.

E, assim, o C4 Pallas segue como "promessa", daquelas que podem mas nunca vingam. Após o lançamento, em 2007, vendia abaixo do esperado (releia aqui); antes de receber motor flex, em 2008, perdia espaço que poderia ser recuperado (aqui). Agora, no último mês cheio tabulado pela Fenabrave, foi o quarto mais vendido do segmento -- com 946 unidades, ficou atrás de Chevrolet Vectra (1.561), bem atrás do Honda Civic (2.461) e a uma eternidade do Toyota Corolla (4.329); mas a conta pode piorar se for vista pelo viés de vendas acumuladas no ano: o C4 Pallas cai para oitavo (4.509 unidades), atrás também de Kia Cerato (4.534) e Fiat Linea (4.758), com Vectra (8.279), Civic (13.344) e Corolla (21.850) em outra dimensão.

IMPRESSÕES AO DIRIGIR
O que fazer quando o que você vê não é o que esperava? Uma solução é mudar o ponto de vista, e foi o que UOL Carros fez ao dirigir o C4 Pallas 2010.

Longe da remodelagem, o modelo mantém a faceta que já foi arrojada, passou a ser classuda em algum momento, mas que atualmente é quase sinônimo de conservadorismo, e se vale do conteúdo embarcado. A versão avaliada ajuda: com acabamento Exclusive e kit Pack  Technologie (inclui controle de estabilidade ESP, e quatro airbags extras ao duplo frontal), o sedã fica mais completo e tecnológico, ajudando a aliviar o peso do tempo. Os faróis de xênon com facho de luz que segue a direção determinada pelo volante (autodirecional) e os sensores de estacionamento (que poderiam ser de série em todo e cada C4 Pallas vendido, desde o GLX) aumentam a segurança e a sensação de cuidado. Mas isso tudo também encarece e o sedã não sai da loja por menos de R$ 76.230 (R$ 69.930 da versão, R$ 950 da pintura e R$ 5.350 do pacote).

Por dentro, o volante ficou mais "limpo" sem o arco do conta-giros, mas a solução não é totalmente positiva: a disposição do painel central segue inadequada por dividir a atenção do motorista, que deveria estar apenas na estrada à sua frente, entre as diversas informações da tela superior e também dos mostradores que estão mais abaixo -- do sistema de som e do controle de climatização (que é digital na versão Exclusive).

As novas entradas para conexão de aparelhos de MP3/smartphones/iPod -- uma requisição antiga -- funcionam muito bem e estão mais bem posicionadas, por exemplo, do que no Honda Civic (outro sedã a adotá-las há pouco tempo). Mas há deslizes como o puxador que parece estar a ponto de se desprender da porta a ponto de chacoalhar a cada utilização. Ou o padrão utilizado na área do painel que abriga as saídas centrais de ar e o display do rádio, que de tão estranho foi apelidado por nosso fotógrafo de "plástico limpo com pano sujo" -- na verdade, a peça tenta simular mármore.  

O câmbio automático Tiptronic, de quatro velocidades, também é um projeto antigo que já deveria ter sido abolido. Ainda em uso, rouba performance do bom motor 2.0 flex que produz 151 cv (a 6.000 giros) e torque de 21,3 kgfm (a 4.000 rpm) com etanol. E acaba aumentando o consumo, por forçar o motor a rodar sempre alto, principalmente no ciclo urbano: com 210 quilômetros percorridos basicamente dentro da cidade de São Paulo, com velocidade média de 17 km/h, não passamos dos 4,1 km/l de combustível.

Ainda assim, o C4 Pallas nos tratou com conforto, rodou suave ao minimizar as imperfeições do solo e acomodou bem a carga colocada no porta-malas, com direito a rede protetora para manter tudo no lugar. Quer mais, quer algo novo? Então espere pelo AirCross, que chega perto do Salão do Automóvel de São Paulo, no segundo semestre. Nós estamos esperando.