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Planejamento é fundamental em viagens de moto; veja oito dicas

Bandeira do Brasil e camisa da seleção ainda abrem fronteiras, aponta Sergio Mahoe, que conheceu Japão, Oriente Médio e África de moto. Ainda assim, planejar é essencial - Arquivo pessoal
Bandeira do Brasil e camisa da seleção ainda abrem fronteiras, aponta Sergio Mahoe, que conheceu Japão, Oriente Médio e África de moto. Ainda assim, planejar é essencial Imagem: Arquivo pessoal

Cícero Lima

Colaboração para o UOL

10/07/2015 18h12

A frase do poeta Fernando Pessoa "navegar é preciso, viver não é preciso" tem o poder de inquietar as pessoas. Principalmente se for um motociclista que sempre desejou fazer uma viagem e nunca teve tempo, dinheiro ou coragem para realizá-la. Como incentivo, reunimos depoimentos de grandes viajantes. Gente que subiu na moto, cruzou o mundo e aprendeu, na prática, quais os cuidados necessários para se aventurar ou fazer uma simples viagem de final de semana sem problemas.

1. Preparação

Para os aventureiros, a preparação é fundamental. Dela dependerá a realização de uma viagem segura, interessante, e que termina no prazo estipulado, sem estourar o orçamento. Quem abortou uma viagem por falta de planejamento, sabe o quanto é decepcionante. Ainda assim podem acontecer surpresas.

Para os amigos Glauber Leite e Fábio Marques, ambos de 27 anos e que estão no Chile rumo ao Alasca (EUA), a preparação da moto foi item fundamental para evitar problemas. Um conselho parece óbvio, mas muita gente esquece: conferir a fixação da bagagem.

"Nada é mais triste do que chegar ao destino e saber que algo importante caiu pelo caminho", afirma Leite, que vai de Yamaha Ténéré 250 acompanhado pela Honda XRE 300 de Marques.

Fábio e Glauber, viajantes de moto - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Glauber Leite e Fábio Marques atestam que fixar bem a bagagem é fundamental
Imagem: Arquivo pessoal

2. Cuidado com a saúde

Ainda falando sobre preparação, o executivo Ricardo Lugris, que já viajou de moto por diversos países, tem uma visão clara sobre o assunto: "É preciso ser muito cuidadoso com sua saúde e forma física". Saber fazer alongamentos em pausas de pilotagem é outra dica fundamental, afinal serão muitas horas sobre a moto. Ioga e pilates são excelentes. Para ele, estar bem de saúde é o mais importante em uma viagem.

João Batista de Lima, autor de "Viagem Completa de Moto" (sem editora, contatos pelo e-mail jblima99@gmail.com), fez uma volta ao mundo a partir de de Matelândia (PR), em 2009, com sua BMW R 1150 GS e lembra da importância de manter o corpo hidratado e ingerir apenas alimentos leves durante o dia.

João Batista de Lima, viajante de moto - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
João Batista já deu a volta ao mundo e garante: hidratação e alongamento são vitais
Imagem: Arquivo pessoal

3. Concentração

Infelizmente muitos problemas acontecem no começo ou ao final de uma viagem. Muita gente se distrai ao pensar, por exemplo, se esqueceu algo em casa. É aí que mora o perigo.

"A caminho da estrada, o motociclista não percebe que o ônibus vai sair do ponto, leva uma fechada, cai e acabou a viagem ali mesmo, pertinho de casa", lembra Ricardo Lugris, apontando que a concentração deve ser mantida do primeiro ao último quilômetro da viagem.

Ricardo Lugris, viajante de moto - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Ricardo Lugris aponta: concentração vale perto de casa ou a 3 mil metros de altitude
Imagem: Arquivo pessoal

4. Trânsito

Também é muito importante se manter atento ao trânsito. Para o empresário Edgard Cotait, é preciso fazer uma leitura de como os motoristas e pedestres se comportam na região. Para isso, é fundamental ficar atento aos retrovisores e aos pontos de concentração de pessoas perto de rodovias e cidades.

A experiência de Cotait é fruto de uma viagem de Yamaha XT 660 entre Portugal e a Rússia, um dos locais com trânsito mais agressivo no mundo. Ultrapassagens são os momentos mais delicados em uma viagem e a manobra tem de ser feita com precisão e rapidez, afirma:  "Evitar rodar ao lado de caminhões, seja no Brasil ou na Rússia, é fundamental".

5. Aprenda o idioma

Ao rodar por outros países é de bom tom aprender pelo menos algumas palavras do idioma local. "Isso representa um gesto de boa vontade que combina muito com o espírito do motociclismo de viagem", afirma Ricardo Lugris. Além disso, conhecer algo do idioma pode evitar situações perigosas ou facilitar a resolução de problemas.

Quem viveu muito essa experiência foi o aventureiro Sérgio Mahoe. O brasileiro viajou pela Ásia e África em uma aventura entre o Japão e o Brasil, em 2002, a bordo de uma Yamaha XT 600. Mahoe conta que a boa vontade com o habitante local e sua língua se ampliam com respeito, cordialidade e firmeza. Sua passagem em segurança pelo Oriente Médio, bem como por tribos insurgentes no Sudão, ao norte da África, e Afeganistão validam a teoria.

Edgard Cotait, viajante de moto - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Edgard Cotait, que já passou pela Rússia, afirma: é preciso avaliar o trânsito local, mas também ter paciência com costumes e cuidado em fronteiras
Imagem: Arquivo pessoal

6. Paciência nas fronteiras

Passar por fronteiras exigem determinação e uma dose extra de paciência. Com tarimba de quem já viajou por mais de 70 países, Lugris afirma que nem sempre adianta ter apenas documentos em ordem. Nesse aspecto, Sérgio Mahoe diz que há algo ainda infalível: "A camisa da Seleção Brasileira sempre abre portas, por pior que seja a situação", afirma o aventureiro.

7. Seja gentil e discreto

O número de pessoas que se conhece durante uma viagem de moto é muito grande. Ser atencioso e ter uma boa atitude é fundamental e permite grandes descobertas. Glauber Leite e Fábio Marques descobriram que a maior fonte de conhecimento sobre as condições das estradas são os caminhoneiros, normalmente vistos como vilões por muitos motociclistas.

"Sempre falamos com eles, para saber as distâncias e as possibilidades de problemas à frente", apontam Leite e Marques.

Nem todas as pessoas são amáveis, porém. Nesse caso, a receita é ser "reservado e elusivo", afirma Lugris. Com discrição é possível fugir de encrenqueiros. 

Marcelo Leite, viajante de moto - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Marcelo Leite cruzou a Amazônia e afirma: é preciso estar pronto para imprevistos -- no detalhe, equipamento para trocar pneus sempre bem posicionado
Imagem: Arquivo pessoal

8. Barraca e estepe

Estar preparado para enfrentar imprevistos é fundamental. Ter de montar uma barraca em alguma clareira perto da estrada, por não chegar ao destino do dia em tempo hábil, é situação quase certa em grandes viagens. Lidar com pneus furados, também.

Segundo Marcelo Leite, autor do livro "Estrada para os Sonhos" (Gente Editora, 2013), no qual relata sua volta ao mundo, se o motociclista não souber como trocar o pneu da sua moto nem deve começar uma aventura. A frase resume o quanto se preparar é fundamental. Seja numa jornada ao fim do mundo ou até a praia vizinha.