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Yamaha Ténéré coleciona seguidores em 3 décadas de aventura e carisma

Cicero Lima

Colaboração para o UOL

03/04/2015 08h00

A França manteve sob seu domínio mais de 20 colônias na África -- entre elas Marrocos, Tunísia e Mauritânia. As colônias e suas paisagens, inclusive os desertos, fascinavam os franceses. Por conta desse fascínio, nasceu o Rally Paris-Dakar, que por ter trechos cruzando regiões inóspitas do Saara chegou a ser conhecido como o "Rali da Morte". Em busca de aventura, centenas de europeus usavam veículos de duas ou quatro rodas para cruzar regiões como a de Ténéré, o "deserto dos desertos", no dialeto tuaregue.

Em 1976, a equipe da Yamaha France competiu no rali com uma XT 500. Empolgados com a participação, os franceses levaram para o Japão uma proposta ousada: produzir uma máquina aventureira, capaz de realizar o sonho francês -- e de quem mais quisesse -- de aventurar-se pelo deserto, sem perder a versatilidade para ser usada também de forma mais tranquila.

Essa moto herdaria o nome Ténéré e surgiria, em 1983, na versão de 600 cc. Em dez anos foram vendidas 60 mil motos, sendo 21 mil unidades apenas na França.

Uma história de carisma

Se algumas motos têm carisma -- caso da Harley-Davidson Fat-Boy, Suzuki Srad ou Kawasaki Ninja --, a Yamaha Ténéré parece imbatível. Sua história ligada a conquistas e sobrevivência cativou admiradores inclusive no Brasil.

Um deles é o metalúrgico catarinense Rigon Hock, 49 anos. Com sua Ténéré 600 1989, fez cinco expedições pela América do Sul. "Estou com a moto há mais de 25 anos e ela me leva aonde preciso, sem reclamar ou deixar na mão". 

Apesar da moto já ter mais de duas décadas de uso, o catarinense não se preocupa com as adversidades. Segundo ele, não falta robustez ao modelo, que chama de "Branca". A moto está repleta de amassados, "marcas da vida" na filosofia do aventureiro, que já cruzou selvas e montanhas em oito países.

Rigon Hock Ténéré - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Rigon Hock tem experiência: na foto de 2008, cruzando a BR-319 (AM)
Imagem: Arquivo pessoal

E a Super?

Outro versão admirada pelos brasileiros é a 750, chamada de Super Ténéré, que surgiu em 1987. Com uma proposta ainda mais ousada, a Super é capaz de enfrentar qualquer obstáculo, graças ao porte avantajado e os 70 cavalos de potência do motor.

"A sensação de poder é incrível", afirma o fotógrafo Eduardo Branco Kickhöfel, 44 anos, de Pelotas (RS), dono de uma Super Ténéré, ano 1997, com 46 mil km. "Minha moto causa admiração onde passo e isso faz bem para o ego", admite.

Mais do que atrair olhares, a moto o levou a conhecer o sul da Argentina em uma viagem de 11 mil km até a região de Ushuaia. Dirigi-la, porém, não é para qualquer um. "É uma moto pesada e que exige experiência para domá-la”, afirma o fotógrafo, que comprou a moto zero-quilômetro.

Pedro Andrade Ténéré - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Pedro Andrade tranformou a paixão pela Ténéré em página no Facebook com 1.500 seguidores
Imagem: Arquivo pessoal
Tem de ser diferente

Para alguns não basta ter uma Super na garagem, ela tem de ser exclusiva. É o caso do jornalista Fabiano Godoy, 42, que personalizou a moto com o visual dos modelos que disputavam o Dakar.

"Sempre acompanhei as provas e quando tive a chance personalizei com as cores e alguns equipamentos da moto usada pelo francês Stéphane Peterhansel, em 1991".

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Em 2010, a família Ténéré ganhou uma representante caçula, de 250 cc. Assim como as irmãs maiores, o modelo traz como destaque o porte avantajado, que sugere longas viagens. O advogado carioca Pedro Andrade, 45 anos, diz que comprou o modelo "por conta da tradição do nome Ténéré". Empolgado, criou uma página Facebook chamada TenereirosRJ, que reúne 1.500 fissurados pela mítica moto da Yamaha.

As mais de três décadas de sucesso da Ténéré comprovam que o espírito de aventura criou uma moto de sucesso, algo que o marketing sozinho não conseguiria.

Cicero Lima é especialista em motocicletas e aventuras.