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Moto antiga ganha até festa de aniversário após restauração

Cicero Lima

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

19/05/2014 20h41Atualizada em 19/05/2014 20h49

Em reportagem publicada recentemente pelo UOL, a psicóloga Marília Castello Branco declarou que todos deveriam cuidar da saúde mental. Entre as atividades que podem nos ajudar a evitar problemas como agressividade, depressão e ansiedade, cultivar um hobby como o de restaurar veículos é uma das mais eficazes. 

Seja pelo apego aos carros do passado ou pelas lembranças vividas ao lado de algum companheiro motorizado de longa data, a restauração virou um ritual cada vez mais frequente entre amantes dos veículos  de duas e quatro rodas. Prova disso são os vários reality shows que têm nos carros e motos suas grandes estrelas, cada vez mais populares.

Festa de aniversário para a Honda XL 250 1984 de Diego Rosa - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Empresário Diego Rosa fez até festa para Honda XL restaurada: 30 anos e "inteirona"
Imagem: Arquivo pessoal

Mais do que uma mostra de carinho pelo veículo que há anos está na garagem, o processo é quase uma terapia, motivando os envolvidos a cumprir metas e superar os mais variados desafios.

"Encontrar aquela peça que você procurava há meses é uma vitória", aponta o aeroviário Fernando Amaral, que trabalhou durante dois anos em uma Honda CB 750 F de 1975. "Não via a hora de chegar o final de semana e ir à oficina conferir a evolução do projeto”, acrescenta o jornalista Fabiano Godoy, dono de uma Yamaha Super Ténéré 750 ano 1992.

Outro segredo para conseguir uma restauração bem-sucedida é procurar modelos de mecânica simples e com componentes produzidos no Brasil, o que garante facilidade para encontrar peças de reposição e também mecânicos com conhecimento técnico para mexer na máquina.

Honda XL 250 1984 de Diego Rosa - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A XL "balzaquiana" de Diego Rosa tem faixa e placa preta.
Imagem: Arquivo pessoal
É o caso da Honda XL 250, de 1984, pertencente ao empresário do ramo têxtil Diego Rosa. Clássico dos anos 80, a moto é tão especial para seu proprietário que, recentemente, recebeu até festa pelos 30 anos de vida, com direito a bolo, banda tocando musicas da época e a ganhar uma placa preta (usada só por veículos de coleção originais) como "presente" de aniversário. "É um agradecimento por todas as alegrias que ela me proporcionou em três décadas de convivência", celebra Rosa.

ESFORÇO PODE CUSTAR CARO
Para alguns puristas, a restauração só é valida quando mantida a originalidade do veículo. Nem todos concordam com isso. O jornalista Fabiano Godoy transformou totalmente sua Super Ténéré após sofrer uma queda e danificá-la em diversas partes. Decidiu investir em uma restauração completa, transformando-a numa réplica da moto com a qual o francês Stéphane Peterhansel foi campeão do Rally Dakar de 1992.

Yamaha Super Ténéré 750 1992 de Fabiano Godoy, antes e depois da restauração - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Yamaha Super Ténéré 750 1992 de Fabiano Godoy: antes e depois da restauração
Imagem: Arquivo pessoal

Nessa empreitada, conhecimento técnico e envolvimento com provas off-road foram fundamentais para que Godoy conseguisse efetuar um trabalho eficiente e com custos relativamente baixos. O resultado final foi uma máquina com sistema de escape, suspensão e outros itens mecânicos exclusivos, que deram a ela um valor de mercado muito maior.

"Gastei cerca de R$ 8 mil no processo e, atualmente, me oferecem trocas por motos zero quilômetro avaliadas em mais de R$ 30 mil", conta o jornalista. Ele garante: "Após tanto esforço, vender essa relíquia é algo que não passa pela cabeça nem por um segundo".

PODE DAR ERRADO
No entanto, se o restaurador não estiver atento a todos esses fatores, nem tiver experiência no assunto, a chance de o prazer se transformar em frustração é grande. Foi o que aconteceu com Fernando Amaral. Sem fazer as pesquisas adequadas, o aeroviário tentou restaurar uma CB 750 F de 1975 e cometeu vários erros ao longo do processo.

Honda CB 750 F 1975 restaurada por Fernando Amaral - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Sem conhecimento, Fernando Amaral levou dois anos para restaurar uma Honda CB 750 F de 1975. Acabou sem a moto.
Imagem: Arquivo pessoal

"Era um sonho de infância meu, então eu não quis nem saber [de me aprofundar no tema] e acabei tendo muita dor de cabeça", relata. Os principais deslizes foram não saber onde encontrar as peças necessárias e contratar mão-de-obra que não sabia lidar com uma motocicleta complexa dos anos 70.

No fim do processo, dois anos depois, sequer ficou com a moto para contar história. "Não valeu. Gastei muito tempo e dinheiro” reclama. 

Apesar dos percalços, Amaral já planeja investir em outra restauração e desta vez, já vacinado, vai investir em um modelo mais simples, conforme recomendado pela cartilha.

COMPROMETIMENTO
Independente do desfecho, os três casos mostrados acima mostram que, para quem quer se aventurar em uma restauração, é preciso ter otimismo, paciência e perseverança. Conhecimento técnico, tempo disponível na agenda e condições (inclusive financeiras) para realizar pesquisas e busca por peças também são fatores imprescindíveis para o bom andamento do trabalho.

Fusca e Yamaha Super Ténéré 750 restaurados de Fabiano Godoy - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Além da Yamaha Super Ténéré, Fabiano Godoy já restaurou também um VW Fusca
Imagem: Arquivo pessoal

Sem esses atributos, talvez seja melhor esquecer a restauração e procurar outro hobby. Com eles, a satisfação de ter uma máquina em perfeitas condições e muito valorizada em sua garagem -- tanto pelo preço de mercado quanto pelo valor sentimental -- é garantida.