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Yamaha MT-09 é aposta ousada no segmento de esportivas médias

Arthur Caldeira

Da Infomoto, em Lisboa (Portugal)

22/01/2014 19h06

A Yamaha apostou em um novo motor de três cilindros para dar vida à inédita MT-09. Com exatos 847 cm³, o modelo, lançado no primeiro semestre de 2013, fez uma aparição surpresa no estande da marca no Salão Duas Rodas 2013 e já está à venda na Europa e nos Estados Unidos

Com design e proposta nada convencionais (a moto mescla características de naked e supermotard), a MT-09 pode ser considerada uma das novidades mais ousadas da fabricante nos últimos anos.

UNIÃO DE ESTILOS
Vista de perto, a MT-09 é surpreendente. Seu desenho foi inspirado em corridas de drift, gangues tatuadas e motos customizadas de Tóquio -- ou tudo que a marca chama de "o lado negro do Japão".

MT-09 ou FZ-09? FZ-09!

Se você foi ao Salão Duas Rodas, em outubro do ano passado, viu uma moto muito parecida com a MT-09, mas chamada FZ-09. Trata-se do mesmo modelo. A FZ-09, porém, é a nomenclatura utilizada pela Yamaha para o mercado norte-americano, onde a MT-09 foi lançada como substituta da FZ8, naked de quatro cilindros que continua à venda na Europa. No Japão e em Portugal, o nome da tricilíndrica é mesmo MT-09, já que ela segue a filosofia das outras MT (MT-01, MT-03), ou masters of torque, linhagem de motos que privilegia o torque em vez da potência.

Nomenclatura à parte, tudo indica que a FZ-09 não veio apenas passear no Salão. O modelo deverá chegar ao Brasil em 2014, mas com o nome do mercado americano, já que outros produtos da Yamaha vendidos no Brasil costumam seguir a identidade visual e os grafismos das motos comercializadas nos Estados Unidos.

A dianteira chama a atenção. O tanque com linhas angulosas, as duas entradas de ar laterais e o quadro do tipo diamante abraçando o motor de três cilindros (levemente inclinado à frente) confere um ar musculoso. Ao mesmo tempo, a ausência total de carenagens garante uma aparência leve e limpa. Além do design, o alumínio do quadro e das rodas ajuda a fazer da MT-09 uma moto leve: 188 kg em ordem de marcha, 1 kg a menos que a esportiva YZF-R6.

O farol e a lanterna seguem a filosofia "clean". Até exageram em certos pontos, tanto que parecem ter sido adaptados ao modelo. O resultado ficou controverso: há quem elogie; outros, como um oficial da Polícia Municipal de Lisboa, perguntam se falta alguma carenagem acima do farol poligonal. De fato, falta, mas a peça é vendida como acessório.

Originalmente, a MT-09 é assim, crua, despida como uma naked. Entretanto, nota-se a mescla de estilos. As rodas de liga leve são calçadas com pneus de perfil esportivo sem câmara (120/70 na dianteira e 180/55 na traseira). Já o garfo telescópico invertido tem longo curso (137 mm) e o guidão é largo como o das supermotard -- assim como o banco estreito e as pedaleiras baixas.

Ao montar na moto, o assento a 81,5 cm do solo não é dos mais baixos. Porém, a junção entre o tanque o banco é estreita, que até mesmo os de estatura média conseguem colocar os pés no chão. Os braços ficam abertos e os joelhos, pouco flexionados, resultando em uma posição de pilotagem mais ereta do que nas naked.

MUITO TORQUE
Ao despertar o motor, percebe-se um som mais grave do que outros tricilíndricos, como os da inglesa Triumph. Em parte por causa do ressonador instalado na caixa de ar, mas também devido ao seu virabrequim "crossplane", com cada um dos três cilindros trabalhando individualmente em intervalos de 240 graus. Essa arquitetura também é utilizada pela superesportiva YZF-R1.

O principal objetivo do desenho crossplane não é somente um som diferenciado, mas também proporcionar um controle mais preciso do torque nas mãos do piloto. Ajuda nessa tarefa o acelerador eletrônico da Yamaha (ride-by-wire), que possibilitou a instalação de três mapas de gerenciamento do motor: um modo mais agressivo chamado "A"; standard (normal) e outro de respostas mais suaves denominado "B".

Os três cilindros trazem duplo comando para as 12 válvulas no cabeçote e refrigeração líquida. São capazes de produzir bons 115 cv a 10.000 rpm e 8,9 kgfm de torque, alcançados a 8.500 giros, mas muito bem distribuídos por uma ampla faixa de giros. Desde os 4.000 até 11.500 rpm, onde está localizada a faixa vermelha, há força suficiente para "esticadas" mais longas. Reduções no câmbio de seis marchas são, na maioria das vezes, desnecessárias.

O propulsor também mostrou-se bastante espirituoso. Mesmo no modo standard, automaticamente escolhido quando se dá partida, as respostas ao acelerador são bruscas. O que por um lado incomoda, se o objetivo for rodar tranquilamente, mas se torna divertido trocando as marchas com os giros lá em cima.

GUERREIRA URBANA
Aclamada pela Yamaha como uma nova geração de moto esportiva, a MT-09 pretende ser leve, potente e com bom desempenho para o uso diário. Dentro dessa proposta ela se sai muito bem. Afinal, com apenas 188 kg, 115 cv (mais que a Kawasaki Z800, por exemplo) e torque à vontade -- até mesmo para levantar a roda dianteira em segunda marcha sem usar a embreagem --, a MT-09 é o tipo de moto que instiga o piloto a acelerar. A posição de pilotagem "peito aberto" aumenta ainda mais a sensação de velocidade.

O guidão largo facilita a mudança brusca de direção, mas não atrapalha a circulação entre os carros. Compensa o reduzido raio de giro, um problema comum em nakeds mais esportivas. O baixo peso também faz da MT-09 uma moto ágil na cidade.

OUTROS COMPORTAMENTOS
A resposta brusca do acelerador no modo standard fica ainda mais estúpida no modo "A": qualquer ação no punho direito resulta em tranco. O modo "B", que não limita a potência final e apenas acalma a ação do acelerador eletrônico, é o ideal para pilotar na cidade com conforto. A troca de um modo para o outro, realizada por meio de um botão no punho direito, pode ser feita em movimento, desde que se feche o acelerador -- o processo é um pouco desajeitado, afinal com a mesma mão você precisa parar de acelerar e ainda apertar o botão.

CICLÍSTICA
Os freios, com 298 mm de diâmetro na roda dianteira, contam com pinças de fixação radial. O conjunto garante uma mordida arisca e instantânea. Ainda sem uma versão com freios ABS, que deve ser lançada no final deste ano na Europa, a MT-09 tem tendência em arrastar a roda traseira até mesmo em frenagens normais.

Em parte, a culpa é do design, com o peso concentrado mais na dianteira. Mas o garfo telescópico invertido, com curso de 137 mm na frente e ajustado para oferecer mais conforto, afunda bastante nas frenagens, deixando a traseira mais leve. Em Lisboa e suas ruas estreitas com calçamento de pedra, isso exige atenção do piloto.

O conjunto de suspensões, aliás, segue claramente a proposta urbana da MT-09. Tem curso maior que nas nakeds e absorve bem as imperfeições do piso. Na cidade, garante conforto e isola o motociclista dos obstáculos.

Apesar do comportamento esportivo e do meu ímpeto ao acelerador, o consumo não foi dos piores: 17,8 km/litro no uso urbano. Com a capacidade de 14 litros do tanque, isso significa autonomia de cerca de 250 quilômetros.

Ficha técnica

  • Tozé Canaveira/Infomoto

+ Preço: 7.795 euros (Portugal).
+ Motor: três cilindros em linha, DOHC, 847 cm³, refrigeração líquida.
+ Potência: 115 cv a 10.000 rpm.
+ Torque: 8,9 kgfm a 8.500 rpm.
+ Câmbio: Seis marchas.
+ Alimentação: Injeção eletrônica.
+ Dimensões: 2.075 mm x 815 mm x 1.135 mm (CxLxA).
+ Peso: 188 kg (em ordem de macha).
+ Tanque: 14 litros.

ESCAPADA
Para experimentar a MT-09 em estradas, o destino escolhido foi o Cabo da Roca, ponto mais ocidental da Europa -- ou, como diz Luís de Camões, "onde a terra se acaba e o mar começa". A rota partia de Almada, ao sul do rio Tejo.

Em rodovias, o torque da MT-09 é bem distribuído em  todas as faixas de rotação. Reduções de marcha só eram necessárias para ultrapassagens mais rápidas.

Pequeno e digital, o painel traz velocímetro, conta-giros com barras, marcador de combustível, relógio, dois hodômetros e indicador de consumo. Fica, inexplicavelmente, deslocado para a direita, ampliando a sensação de que falta algo na dianteira da moto. Aliás, pouco se vê da MT-09 quando está ao guidão: a posição de pilotagem ereta e "pra frente" deixa apenas o painel e os retrovisores à vista.

Em subida de serra, o motor tricilíndrico voltou a despejar torque, mas sem assustar mesmo no modo "A". Vale ressaltar que as respostas bruscas do acelerador são mais sentidas, e incômodas, em baixas rotações. A partir de 6.000 rpm a injeção eletrônica faz seu trabalho muito bem.

As suspensões -- ajustáveis na frente e atrás -- suportaram bem a subida, onde não é preciso frear tanto e o motor dá conta de reduzir a velocidade. Já na descida, o conjunto mostrou limitação. Em curvas mais fechadas, a sensação é de não saber onde estão as rodas da frente.

Em uma forma de pilotagem mais suave, a moto não chega ao nível de segurança de uma esportiva ou uma naked maior, principalmente em curvas e com o raio menor, mas a sensação transmitida pelo trem dianteiro melhora.

A pouco mais de 140 km/h (em Portugal quase todos, inclusive caminhões, rodam nesta faixa de velocidade) o motor vibra quase nada e gira pouco -- cerca de 5.500 rpm --, com sobra para acelerar mais. Emcurvas de alta velocidade, a ciclística da MT-09 mostra-se estável e segura.

O vento, porém, incomoda e cansa. Afinal, apenas o pequeno farol tem o trabalho de desviá-lo do piloto. Definitivamente, o pequeno parabrisa deverá ser um dos opcionais mais vendidos na Europa ou quando a moto chegar no Brasil (leia box).

UMA BOA CARTADA
Famosa por inovar ao longo de sua história, a Yamaha mais uma vez projeta uma moto que não tem nada de convencional. Seja pelo desenho "pelado", pela posição de pilotagem mesclada, ou ainda pelo "torcudo" motor de três cilindros, a MT-09 não se parece com qualquer outra moto disponível no mercado. Uma boa "cartada" da marca para acabar com a mesmice.

Focada em um piloto que usa a moto diariamente, gosta de acelerar e pretende se divertir com pequenas escapadas no final de semana, a MT-09 cumpre bem sua proposta. Porém, se a ideia for fazer viagens mais longas, saiba que a ausência de carenagem e a pouca espuma no banco estreito cansam mesmo em viagens curtas.

Em Portugal, a MT-09 sem freios ABS custa 7.795 euros. Ela é mais barata que a naked FZ-08 (8.690 euros) da própria Yamaha ou que a Kawasaki Z800 (8.990 euros). Com isso, a nova tricilíndrica japonesa surge como uma boa opção nesse segmento de média capacidade cúbica com vocação esportiva.