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Com gambiarra ou projeto engenhoso, moto substitui de burro a ambulância

Cícero Lima

Colaboração para o UOL

30/08/2013 20h51

Qualquer pessoa que preste atenção a nossas ruas vai concluir que o improviso é mesmo uma característica típica do brasileiro. A capacidade de achar um "jeitinho" também está presente no mundo dos carros e das motos, principalmente na hora de transportar cargas, pessoas e até animais.

  • Mário Villaescusa/Infomoto

    Carreta adaptada a motocicleta: não pode, mas o rapaz precisa trabalhar...

Ela pode ser a única solução para resolver o problema de quem precisa carregar suas ferramentas de trabalho, por exemplo. Quem viajou por regiões afastadas dos grandes centros urbanos do país com certeza já viu alguma cena insólita que demonstrasse isso.

E quando se fala em cargas, sempre vem à mente a expressão "burro de carga", nascida de uma tradição do Brasil rural que ficou no passado e aos poucos é substituída pelo uso da motocicleta.

O problema é que as motos foram desenvolvidas para levar, no máximo, duas pessoas. O espaço destinado à carga não passa de um reduzido bagageiro. Além de ser pequeno em dimensões, sua capacidade não é superior a alguns poucos quilos. Motocicleta não nasceu para carregar peso!

TÁ AMARRADO
Na busca por resolver seus problemas de transporte, pessoas de menor poder aquisitivo acabam optando pelo famoso "quebra-galho". Contrariando o projeto original da maioria das motos, criam soluções caseiras para aumentar sua capacidade de carga, como fixar carretas na traseira.

O maior risco desse tipo de "gambiarra" está na perda de dirigibilidade da moto. Sistema de freio, suspensão e quadros são submetidos a um estresse excessivo, muito maior do que são projetados para suportar. O resultado negativo pode ir de um simples problema mecânico até alguma situação que coloque em risco o piloto e um eventual passageiro.

Para tentar pôr ordem na casa, a resolução 356 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), publicada em agosto de 2012, proibiu o transporte de botijões de gás e galões de água na garupa das motos, obrigando a utilização de um sidecar (carrinho fixado na lateral). Tal medida abriu espaço para empresas desenvolverem novos produtos -- como os triciclos, que utilizam motos como base e são destinados a todo tipo de carga.

Existem modelos com carroceria térmica, outros destinados à coleta de lixo, e até o curioso triciclo-plataforma capaz de transportar duas motos leves ou uma grande. Os triciclos têm capacidade de carga de até 250 kg e velocidade máxima limitada a 60 km/h. Segundo a assessoria da Fusco-Motosegura, são produzidos mais de 200 por mês -- com destaque para o transporte de botijão de gás.

  • Mário Villaescusa/Infomoto

    Exemplo de "motambulância", usando um triciclo adaptado a partir de motocicleta

VIDA OU MORTE
Em certos países pobres, a moto substitui o carro na função de salvar vidas. Usadas na África, as ambulâncias-triciclo (construídas a partir de motos) são projetadas para a carga adicional. Elas ganham reforços em suspensão e quadro, e têm capacidade para transportar piloto e pacientes em terrenos inacessíveis aos veículos de quatro rodas. Países como Zimbábue, Quênia e Sudão estão entre as nações que utilizam esse veículo.

As adaptações em motos também podem ser desenvolvidas para salvar carros. Um exemplo é o The Retriever (literalmente, "o recuperador"), nome dado a um sistema de guincho, desenvolvido a partir de uma Honda Gold Wing, capaz de rebocar veículos.

Com tantos exemplos de soluções, improvisadas ou devidamente projetadas, a moto sempre se mostra pronta a resolver qualquer tipo de problema. Em alguns casos, é a última esperança de quem necessita trabalhar com carga -- ou, no caso dos pacientes africanos, ser transportado para não morrer. Nesse caso, vale até o improviso.

Cícero Lima, ex-Duas Rodas, é especialista em motos