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Motociclistas fazem da América do Sul um mapa da aventura

Cícero Lima

Colaboração para o UOL

14/06/2013 17h46

Neste momento, algum motociclista aventureiro percorre a América do Sul, não importa se sua moto não é a ideal para a viagem, não importa a idade. Esse tipo de piloto pode lutar contra o frio congelante que dificulta a travessia da Cordilheira dos Andes, arriscar sua segurança em alguma estrada da Colômbia ou estar coberto pelo pó no deserto do norte do Chile.

A América do Sul possui uma área próxima a 18 milhões de quilômetros quadrados, em dez países onde vivem perto de 400 milhões de habitantes. Marcado pela diversidade cultural, geográfica e climática, o subcontinente reserva paisagens inusitadas que atraem aventureiros de todo o mundo e, claro, muitos brasileiros.

Por muitos anos, a meca do viajante brasileiro era atingir Ushuaia, na Terra do Fogo, extremo sul da Argentina. Relatos davam conta das dificuldades para superar os milhares de quilômetros em estradas de rípio, um tipo de pedra solta que causava muitos acidentes. Além delas, o forte vento lateral castigava piloto e garupa -- somado ao frio e o isolamento do lugar, tornava a viagem até a cidade mais austral do planeta (a 3.200 km de Buenos Aires) num enorme desafio.

Mas a Ruta 40, principal ligação com Ushuaia, foi asfaltada, e o roteiro perdeu seu glamour entre os motoaventureiros.

  • Arquivo pessoal

    Paulo Victor Sciammarella usou uma Honda Hornet para conhecer Los Penitentes, nos Andes

Na busca de novas paisagens e desafios, muitos motociclistas partiram para regiões inóspitas e capturaram imagens de paisagens de uma América do Sul desconhecida pelos brasileiros. Alguns até desafiaram a lógica da engenharia ao percorrer estradas que mais parecem trilhas, mas sobre motos feitas para rodar exclusivamente no asfalto.

Foi o que fez Paulo Victor Sciammarella, físico de 34 anos, que, com sua Honda Hornet, chegou até Los Penitentes, a 5.000 metros de altitude no lado argentino da Cordilheira dos Andes. Outros parecem não ligar para a passagem do tempo e deixam a idade de lado, partindo para novas aventuras.

Motos de 125 cc a 1.200 cc percorrem desertos, sobem montanhas e brindam o motociclista com histórias fantásticas, como no caso de Thiago Rocha Westphalen, 68 anos, que já perdeu a conta de suas aventuras. Sua moto, uma Honda ML 125 (ano 1985), acumula 600 mil quilômetros percorridos. Em suas viagens, o experiente motociclista conheceu a cidade boliviana de La Higuera, onde Ernesto Che Guevara foi assassinado.

  • Arquivo pessoal

    Thiago Rocha Westphalen, o Profeta, viajou com uma Honda ML de 1985 para uma visita à cidade em que Che Guevara foi executado, na Bolívia

SOLIDARIEDADE
Uma característica comum a todos esses viajantes é a solidariedade e a troca de informações. Condições das estradas, pontos de apoio e, claro, as atrações que valem a pena ou não serem visitadas são motivos de discussão nas redes sociais. No Facebook, existem várias comunidades que reúnem esses aventureiros.

Entre elas, a Viagem de Moto América do Sul (VMAS), que foi criada ainda no Orkut, em 2007, e hoje reúne mais de 1.400 pessoas. "A maioria dos participantes é do Brasil, mas temos motociclistas de outros países e de outros continentes que buscam informações para viajar pela América do Sul", informa Edgard Cotait, criador da comunidade.

Para transformar a amizade virtual em real, os administradores do grupo organizam, todo ano, um evento de confraternização. É a oportunidade que muitos aventureiros têm para conhecer pessoas com a mesma disposição para viajar e descobrir novos lugares. O encontro mais recente ocorreu em Cananeia (SP), ao qual compareceram mais de 150 integrantes. Alguns vieram de longe, como de Vila Velha (ES), distante 1.500 km. Para eles, o longo caminho não é um problema: é pura diversão.

Cícero Lima dirigiu a revista Duas Rodas