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Triumph retorna ao Brasil de olho no cliente de Harley e BMW

Divulgação
Imagem: Divulgação

Roberto Agresti

Colunista do UOL

03/08/2012 21h00

A centenária marca de motos inglesa Triumph está prestes a abrir as portas de sua operação brasileira, agora com o status de subsidiária e não mais nas mãos de representantes. Lamentavelmente ausente de nosso mercado desde 2010, quando da interrupção da parceria com o Grupo Izzo, a Triumph se estabeleceu com escritórios na capital paulista e fábrica em Manaus (AM), de onde no mês que vem sairão as primeiras motos montadas no Brasil.

A empresa é a única expressiva reminiscente da outrora poderosa indústria de motos do Reino Unido, dominadora do mercado mundial no século passado. Nomes lendários como AJS, Ariel, Matchless, Norton e Royal Enfield entre outros sucumbiram um a um ao avanço da indústria de motos japonesa iniciado no fim dos anos 1950. Já a Triumph, fundada em 1902, teve a sorte de ser literalmente ressuscitada no início dos anos 1990 pelo magnata local John Bloor, verdadeiro "self-made man" que fez fortuna no segmento da construção civil. 

Aliás, o resgate da Triumph -- que em 2011 vendeu quase 50 mil motos, todas acima de 600 cc -- se deve exatamente ao interesse de Bloor em incorporar a área fabril da falida empresa para construção de residências. Na negociação, realizada em 1983, o empresário acabou ficando também com os diretos sobre o tradicional nome. Inesperada e silenciosamente, planejou o renascimento da marca, que ocorreu em 1991 através de modelos 100% novos, dotados de elevado padrão tecnológico, mas que souberam manter o elo com as glórias passadas, e rapidamente conquistar boa fama.

Apesar de rumores recentes darem conta que a Triumph teria planos de ingressar no mercado de motos pequenas -- especulou-se uma monocilindro de cerca 300 cc, que seria produzida em uma unidade fabril da empresa situada na Tailândia e trazida ao Brasil em regime de CKD --, ao escolher Manaus para mais uma fábrica fora dos confins do Reino Unido, a aposta inicial é no cliente que faz a alegria de suas concorrentes diretas, como BMW e Harley-Davidson. Estas, como se sabe, também montam boa parte de seus produtos vendidos aqui na capital do Amazonas, usufruindo benesses fiscais decorrentes da opção.

MOTONOTAS!

PEQUENO, MAS IMPORTANTE, o mercado de motos acima dos 600 cc no Brasil representa menos de 2% do total, todavia o número decorrente desta aparentemente ínfima parcela -- quase 4 mil motos/mês -- atrai muito fabricantes que desde o final de 2008 viram declinar suas vendas nos mais tradicionais mercados, Europa e EUA. Neste panorama inóspito, países emergentes como o Brasil ainda representam excelente possibilidade de negócios.

IMUNE ao declínio do mercado de motos brasileiro, que prevê um fechamento abaixo dos 2 milhões de unidades de motos vendidas no ano passado (a estimativa atual gira em torno do 1,8 milhão), o setor de motocicletas que custam acima dos R$ 25 mil não tem razões para reclamar.

NA CONTRAMÃO, foram emplacadas cerca de 26 mil motos acima dos 600 cc no Brasil, de janeiro a julho, o que significa um crescimento aproximado de 20% em relação ao mesmo período de 2011. Diferente do mercado de motos em geral, que em virtude da maior restrição ao crédito vende menos as utilitárias de 50 a 250 cc. A queda nos emplacamentos dos primeiros sete meses é de 8,5% em relação ao mesmo período de 2011.

TRIPLE é a primeira concessionária da Triumph no Brasil instalada em na capital paulista. O nome alude à arquitetura de motor de boa parte das motos da marca, o tricilindro cuja voz característica é um dos charmes dos modelos.

NOMES
Ainda não foram anunciados quais os modelos que vão compor a gama da Triumph nesta nova fase no Brasil, mas já se sabe que esta será composta de motos importadas, além das montadas em Manaus. Um dos modelos importados confirmados é a Tiger Explorer 1200, representante do segmento das chamadas maxienduro,  concorrente direta da lendária BMW R 1200 GS, há anos a mais vendida da marca bávara no Brasil e no mundo, que aqui tem como competidoras a Yamaxa XT 1200 Z Superténéré, a Kawasaki Versys 1000 e a anunciada (para outubro próximo) Honda Crosstourer.

Quanto aos modelos a serem montados em Manaus ainda pairam fortes dúvidas sobre as escolhas da marca inglesa para sua estreia como fabricante no país. Aposta óbvia são as mais acessíveis: a tricilíndrica Street Triple 675 e a bicilíndrica Boneville, esta verdadeiro ícone da marca, que apesar do estilo retrô se vale de um moderno motor de 865 cc.

Não devem ser descartadas, porém, as aventureiras Tiger, que contam com motores -- sempre de três cilindros -- de 800 a 1050 cc, com destaque para a recém apresentada Tiger XC 800, concorrente direta da também manauara BMW F 800 GS. Já a mencionada Street Triple 675 seria páreo das também montadas em Manaus BMW F 800 R e Honda CB 600F Hornet.

Sucessos de venda e crítica como a Daytona 675, premiada best-seller da marca inglesa e rival da Honda CBR 600F ou a já lendária Speed Triple,  empurrada pelo motor 1.050 cc, "hooligan” em versão motociclística (e antagonista de nossas Honda CB 1000 R e Kawasaki Z 1000) são outras boas opções.

Como se vê, “chumbo grosso” não falta na investida inglesa. Tecnologicamente atuais, com bom design e qualidade construtiva inatacável as Triumph passaram do status de motos-surpresa dos anos 1990 a referências na década seguinte. Agora, em primeira pessoa no Brasil, confirma-se a pretensão de fortalecimento, o que só poderá ocorrer fora das fronteiras da cansada e combalida Europa.