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Audi mira o futuro (e a BMW) com a compra da Ducati

Mário Villaescusa/Infomoto
Imagem: Mário Villaescusa/Infomoto

Roberto Agresti

Colunista do UOL

20/07/2012 19h44

Não foram poucos a rotular a recente aquisição da tradicional marca de motos esportivas italiana Ducati pela Audi, braço "premium" do grupo Volkswagen, como uma operação desprovida de bom fundamento comercial.

Economistas e homens de finanças em geral não engoliram o porquê do desembolso de cerca 1 bilhão de euros -- dos quais 140 milhões são dívidas da Ducati embutidas na negociação -- para incluir no portfólio do grupo alemão uma marca de motos de nicho. No ano passado a Ducati vendeu 42 mil motos e obteve um faturamento próximo dos 480 milhões de euros, uma mixaria em comparação os 8,2 milhões de veículos vendidos pelas diversas marcas que compõe o grupo VW, que alcançou um faturamento de cerca 160 bilhões de euros.

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Há quem também sustente que a compra da rossa de Bolonha foi uma decisão pessoal de Ferdinand Piëch, no passado executivo nº 1 da VW e ainda hoje chairman do conselho. Segundo estes, ter a Ducati no grupo VW foi um "capricho" do neto de Ferdinand Porsche, que aos 75 anos de idade é um motociclista renitente, apaixonado proprietário de motos Ducati.

É evidentemente impensável, por maior que seja a envergadura do lendário executivo nas entranhas da Volkswagen, que o negócio tenha sido realizado por razões emotivas. A marca alemã quer dominar a cena mundial e ser em breve o maior fabricante de veículos do planeta, e jamais poderia dar-se ao luxo de passos irracionais nessa escalada até agora muito bem-sucedida. Então, o que há por trás da compra dessa pequena, mas muito prestigiada marca de motos?

A resposta mais óbvia é a competição. Não nas pistas, onde a Ducati é uma espécie de Davi que frequentemente bate Golias, formidável antagonista dos colossos japoneses Honda e Yamaha nos campeonatos dos protótipos, a MotoGP, onde foi campeã em 2007, e mais ainda no torneio mundial reservado às máquinas derivadas de série, as superbikes, com 14 títulos em 22 campeonatos.

A competição a que nos referimos é com a BMW, a conterrânea da Audi, até ontem única marca européia de destaque a atuar no ambiente de duas e quatro rodas de maneira consistente.

Porém, para a Audi lutar com BMW (via Ducati) no quesito motos há chão: o catálogo muito mais diversificado e menos elitista fez a marca de Munique vender cerca de 114 mil motos em 2011, quase três vezes mais que sua rival italiana.

MOTONOTAS!

DKW, uma das empresas que compôs a Auto Union, associação de marcas ocorrida na Alemanha em 1932 (as outras marcas eram a Audi, Horch e Wanderer) foi competentíssima construtora de motocicletas, o maior fabricante mundial de motos nos anos 1930, extremamente inovadora na técnica e ativa nas competições, angariando diversas vitórias nas pistas.

YAMAHA TMAX, considerado o "rei" dos big-scooters, é a referência máxima do segmento no maior dos mercados deste tipo de veículo, a Europa. Seu segredo é conciliar a agilidade e praticidade característica dos scooters com um comportamento dinâmico e performance próximas às de uma moto de média cilindrada. Para realizar seus scooters, a BMW se inspirou fortemente neste perfil do modelo Yamaha.

RUPERT STADLER, presidente da Audi, justificou a aquisição da Ducati evocando ser a marca italiana uma das mais rentáveis de seu segmento. Todavia, é claro que a possibilidade de geração de caixa da empresa italiana não é o que mais interessa ao gigantesco Grupo Volkswagen.

PETER SCHWARZENBAUER, responsável por marketing e vendas da Audi declarou esta semana, por ocasião da inauguração de um showroom da marca em Londres, que a Audi terá veículos de duas rodas em seu futuro, mas que jamais veremos uma Ducati com o logotipo da Audi.

MERCEDES-BENZ, a grande rival de Audi e BMW, não ficará de fora dos setor duas rodas: seu primeiro passo será um scooter elétrico de pequenas dimensões, lançado por sua marca Smart.

Então, o que há por trás da operação Audi-Ducati?

SCOOTER
Rumores bem recentes dão conta de que a marca das quatro argolas mira mesmo o mercado das duas rodas, e pequenas: os scooters. Inflacionado mas tremendamente lucrativo, o segmento dos práticos veículos urbanos entrou recentemente no raio de ação da BMW com o lançamento, no final do ano passado, de dois modelos destinados ao topo do mercado, os BMW C 600 Sport e C 650 GT, com preços na casa dos 12 mil euros.

Estes inéditos BMW têm como objetivo desbancar o rei deste importante nicho, o Yamaha Tmax 500, que desde seu lançamento em 2001 vendeu nada menos do que 180 mil unidades. No berçário da maioria dos construtores, e para curto prazo, estão versões elétricas destes grandes scooters. A BMW já mostrou seu protótipo há exato um ano, e não deve demorar para colocá-lo nas revendas.

A Audi possivelmente não cometeria o pecado de lançar um scooter (grande ou pequeno) com o logotipo Ducati, maculando a aura especialista da marca (apesar de ter feito o Cayenne e o Panamera, aplicado o logo Porsche neles).

O mais provável é que a expertise italiana em motores compactos de alto rendimento, e principalmente em termos ciclísticos (chassi e suspensões), seja direcionada para scooters timbrados Audi, permanecendo as motos de alto desempenho com o tradicional e premiadíssimo nome Ducati.

Não seria uma operação inédita em termos de Grupo VW: a compra da Lamborghini pelos alemães em 1998 deu nova vida para a marca de carros superesportivos, com o motor V10 projetado para o modelo Gallardo indo parar nos cofres da perua Audi RS6 e do coupé RS8.

Concentrada em ser a nº 1 mundial em veículos, atenta às dificuldades da mobilidade nos grandes centros, às cada vez mais determinantes questões ambientais -- e vendo muitos executivos chegarem ao trabalho montados em TMax e congêneres --, a operação da Volkswagen ao comprar a Ducati faz, sem dúvida, muito sentido.