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Freios combinados: como funciona sistema que corrige velho vício brasileiro

Sistema já é usado por streets como Honda CG 160 Titan e Yamaha YS 150 Fazer - Divulgação
Sistema já é usado por streets como Honda CG 160 Titan e Yamaha YS 150 Fazer Imagem: Divulgação

Roberto Agresti

Colaboração para o UOL

30/05/2017 16h24

Equipamento será obrigatório no país a partir de 2019 para motos abaixo de 300 cc, como opção mais barata ao ABS

Em 2019 todas as motocicletas vendidas no Brasil deverão ser equipadas com sistemas de auxílio à frenagem. Para motos acima de 300 cc o conhecido sistema eletrônico ABS (antitravamento) será obrigatório. Já as motos abaixo de 300 cc adotarão um sistema mais simples e barato, mas ainda assim bastante eficaz: a frenagem combinada.

São duas receitas diferentes que visam a um mesmo objetivo: aumentar a segurança dos motociclistas. Motociclistas novatos e menos habilidosos serão os maiores beneficiados.

O ABS atua impedindo que o excesso de pressão aplicado aos comandos de freio resulte em arrasto dos pneus. Eliminando tal possibilidade, a perda de controle da motocicleta em frenagem torna-se improvável.

Já no sistema combinado, desenvolvido para as motos menores, a melhoria da frenagem acontece em função da ação simultânea dos freios: ao usar o pedal (normalmente dedicado apenas ao freio traseiro), parte da ação frenante também é direcionada ao freio dianteiro.

Falha vem desde a moto-escola

No Brasil é disseminado o mito de que quem “manda” na frenagem da moto é o freio traseiro. Tal ignorância tem origem no nosso sistema de concessão da CNH, a Carteira Nacional de Habilitação. O exame prático exigido, realizado em circuito fechado, não serve para nada a não ser provar que o candidato sabe conduzir em baixíssima velocidade seguindo um traçado desenhado no solo.

No treinamento dos candidatos ao exame os instrutores de moto-escolas aconselham apenas o uso do freio traseiro, acionado pelo pé direito, deixando à mão direita (onde há o comando do freio dianteiro) a tarefa de apenas usar o acelerador.

Tal conduta pode simplificar a vida do iniciante, mas planta uma “semente do mal” que faz com que boa parcela dos motociclistas não considere a utilização do freio dianteiro, inclusive acreditando que o seu uso é perigoso, pois a moto poderia capotar.

Treinar motociclistas iniciantes para frear de maneira correta é, obviamente, tão importante quanto verificar a capacidade de equilíbrio sobre duas rodas em movimento. Todavia, mesmo sem termos um melhor padrão para a obtenção da CNH, a frenagem combinada para motos pequenas será uma importante salvaguarda para os novatos.

Fora do asfalto, a melhor opção

Não é só por causa do vício dos motociclistas brasileiros de apenas usar o freio traseiro que o sistema de frenagem combinada acaba sendo efetivo para as motos pequenas.

Apenas 20% das vias brasileiras são pavimentadas e, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, onde o uso das pequenas motonetas e motos é predominante, as ruas e estradas “de chão” são a realidade principal.

No uso em terreno de baixa aderência, a ação do sistema ABS impedindo o travamento poderia ter efeito indesejado e o tiro sairia pela culatra, pois o espaço de frenagem, ao invés de diminuir, aumentaria caso apenas o freio traseiro seja usado.

Já o sistema combinado não tem contraindicação no uso em estradas de terra. Aliás, oferece a mesma efetividade para redução dos espaços de frenagem independentemente de o piso ser pavimentado ou não.

De certa forma o sistema combinado educará “na marra” os usuários das pequenas utilitárias, pois os benefícios da frenagem mais efetiva em qualquer piso se tornarão evidentes. Além disso, o sistema combinado, por ser tecnicamente muito mais simples que o ABS, não torna a manutenção periódica mais complexa nem incide exageradamente no preço final do veículo.

E o ABS?

Já nas motos acima de 300 cc a obrigatoriedade do ABS é plenamente correta. Usado por condutores mais experientes e que em geral rodam em vias pavimentadas, o sistema tem o maior custo de manutenção diluído mais facilmente em veículos de maior valor.

Enfim, 2019 promete ser o ano em que todas as motos sairão de fábrica mais seguras, mas isso não implica que desde já os consumidores mais atentos escolham suas novas montarias tendo como critério a existência destes sistemas de auxílio à frenagem, já presentes em modelos de todo tamanho.