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Mercado de motos para de cair, finalmente. E scooters são nova tendência

Roberto Agresti

Colaboração para o UOL

24/04/2017 16h01

Antes exóticos, agora eles podem simplesmente salvar nosso mercado

As vendas do primeiro trimestre de 2017 indicam que o mercado da motocicleta no Brasil parou de afundar. É o que dizem os números da Abraciclo, a entidade dos fabricantes de motocicletas no Brasil, que recentemente divulgou dados relativos aos primeiros três meses deste ano.

A comparação com o mesmo período do ano passado indica ínfimo crescimento de 0,2%, que representa exatas 448 unidades a mais. É um nadinha, mas para um setor que amargava perdas sobre perdas, o simples fato do número ser positivo já é motivo para festa.

Este sinal de recuperação, porém, não ilude: executivos do setor acreditam que vai demorar pelo menos cinco anos para termos cifras semelhantes às do ano do recorde de vendas do mercado de motos no Brasil, 2011.

Para efeito de comparação, nos três primeiros meses deste ano foram vendidas 215.820 unidades, contra as 503.647 do primeiro trimestre de 2011, uma diferença de cerca 43% para menos.

A locomotiva-mór do mercado, o segmento das utilitárias -- motonetas e motocicletinhas de até 150 cc -- depende fundamentalmente da venda à prestação. Se antes o crédito fácil permitia a milhares de pessoas tornar o sonho da primeira moto realidade, atualmente a seletividade na concessão de financiamento associada à grana curta e ao espectro do desemprego tornou as coisas bem mais difíceis.

Sem os bancos apoiando financiamentos, o consórcio voltou a ser um canal de vendas prioritário, mas nem mesmo tal recurso consegue transformar a realidade, que é o empobrecimento generalizado da clientela. Sem clientes em quantidade, a indústria tem que garimpar seu futuro através de outras estratégias, como a diversificação e qualificação.

Novos caminhos

Com a venda das utilitárias em baixa, sobra como alternativa alimentar o mercado para quem ainda tem algum poder de compra. O segmento de luxo é alimentado por marcas como a BMW, Ducati, Harley-Davidson e Triumph, mas o que será das empresas que têm grandes plantas em Manaus, muito verticalizadas, tais como Honda e Yamaha?

Para estas, a aposta parece ser o scooter, meio ideal para um crescente tipo de cliente que deixou ou quer deixar o carro na garagem por conta do alto custo de exercício. Combustível, estacionamento e seguro cada vez mais caros, além das horas perdidas em congestionamentos, empurram uma legião de novos clientes à simpática alternativa.

Antes vistos como brinquedinhos, scooters estão seduzindo consumidores que jamais considerariam a motocicleta como uma alternativa de transporte. Gente que não pode ou não quer se render ao transporte público, em geral insuficiente e inieficiente, e vê motos com desconfiança.

No bolo das vendas deste primeiro trimestre, eles representam 5,4% do total. No mesmo período do ano passado, representavam 2,8%. Sintomático do anseio por este novo standard de transporte é o recente lançamento, por parte da Honda, de outro scooter de 150 cc para fazer par com seu best-seller PCX: o SH 150i.

Para quê dois scooters de motorização semelhante? A resposta está na morfologia: o consagrado PCX é baixinho, alongado e futurístico. Já o SH é mais clássico, elegante e convencional: tem rodas maiores, é mais amplo, mais equipado e também mais caro.

Com o PCX a Honda atende a base de seus clientes, os iniciantes. Com o SH 150, aqueles que desejam qualificação (o modelo tem freios ABS e luxinhos como chave presencial...). Quem quiser mais, tem ainda à disposição o SH 300i, lançado há mais de um ano para brigar com o queridinho do mercado nesta faixa, o Dafra Citycom 300i -- lançado em 2011, ele praticamente ensinou aos brasileiros como é legal ter um scooterzão multiuso, bom na cidade e até na estrada, econômico e resistente.

Com a chegada de cada vez mais modelos -- no ano passado a Yamaha lançou o Neo 125 e o NMax 160 --, o que era uma exoticidade virou tendência, e possível boia de salvação para o atual momento da indústria da moto no Brasil.