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Motociclismo ainda precisa de um "Ayrton Senna" para crescer no Brasil

Alexandre Barros (na foto, à frente de Valentino Rossi, em 2002) interrompeu sua carreira após o final da temporada 2007 da MotoGP, o maior campeonato mundial de motovelocidade; agora, voltará a correr pelo Superbike Series, principal torneio nacional - Divulgação
Alexandre Barros (na foto, à frente de Valentino Rossi, em 2002) interrompeu sua carreira após o final da temporada 2007 da MotoGP, o maior campeonato mundial de motovelocidade; agora, voltará a correr pelo Superbike Series, principal torneio nacional Imagem: Divulgação

Roberto Agresti

Colaboração para o UOL

17/04/2017 13h41

Alexandre Barros, que volta este ano, foi o único que chegou perto

Aos 46, o brasileiro que mais brilhou no motociclismo mundial, Alexandre Barros, anuncia que vai voltar a disputar um campeonato de maneira oficial: a temporada de 2017 da Superbike Series, principal torneio de motovelocidade nacional.

Foi exatamente há uma década, em 2007, que o piloto encerrou sua carreira na categoria principal do motociclismo mundial, a MotoGP, onde disputou nada menos que 17 temporadas naquela que é considerada a Fórmula 1 do motociclismo.

Largou em 276 corridas e conseguiu sete vitórias. Suas melhores temporadas foram as de 1996, 2000, 2001 e 2002, quando obteve o quarto lugar no ranking final.

Respeitado no ambiente da MotoGP por ser reconhecidamente um piloto habilidosíssimo -- quando inspirado, nem mesmo Valentino Rossi foi capaz de batê-lo --, a Barros talvez faltou sorte e constância de resultados para conseguir o que Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna alcançaram no automobilismo: serem campeões mundiais.

Cadê nossos ídolos?

Em países onde a cultura motociclística é elevada e onde ídolos do motociclismo existem em profusão há décadas, tais como a Reino Unido, Espanha e Itália, até hoje Alexandre Barros não consegue caminhar 100 metros na rua sem ser parado para foto ou autógrafo. Já no Brasil, nem mesmo no auge de sua carreira sua popularidade atraiu mais do que o estrito núcleo de aficionados pelo esporte sobre duas rodas.

Não é mistério para ninguém o poder de transformação que ídolos reconhecidos pelo grande público detêm. O futebol brasileiro talvez não teria alcançado tamanho brilho se não houvesse existido Pelé, e mesmo um esporte de elite como o tênis se beneficiou enormemente dos títulos de Gustavo Kuerten, seja para atrair mais praticantes como para ganhar visibilidade junto ao grande público.

Alexandre Barros campeão mundial foi um sonho que, se realizado, teria impulsionado o esporte da motocicleta e todo o setor a ela relacionado, mas talvez o maior benefício não tivesse sido no âmbito comercial, e sim no da imagem.

Imagem errada

A motocicleta no Brasil infelizmente sofre por conta de estereótipos distorcidos. O trânsito violento como um todo certamente penaliza os veículos mais frágeis na cena urbana, mas é um erro enxergar motonetas, motocicletas e scooters como meios de locomoção perigosos em vez de vê-las como solução de mobilidade econômica, prática e inteligente.

O problema de fato está no mau uso, pelo desrespeito a limites quaisquer -- da física, do bom senso ou das leis -- que impedem que o transporte motorizado sobre duas rodas conquiste plenamente seu verdadeiro status, de vetor urbano inteligente como ocorre em cidades como Tóquio, Barcelona, Paris ou Milão.

Ter tido um campeão mundial, um Ayrton Senna da motocicleta, certamente nos teria dado um belo empurrão para que a moto conquistasse o lugar que lhe é de direito. A chance de usar um exemplo de humano talentoso, bem-sucedido e de bom comportamento como foi Senna induziria a boas práticas ao guidão.

Alexandre Barros bem que tentou, insistentemente, se tornar o ídolo que poderia ter dado ao motociclismo e à motocicleta no Brasil um status positivo. Infelizmente não conseguiu e não será sua volta às pistas que irá mudar o passado.

Mas talvez ela possa servir para fazer uma reflexão sobre o quanto o apoio ao esporte e o incentivo à formação de potenciais futuros ídolos pode influir positivamente em aspectos distantes do esporte em si, mas influentes no comportamento humano e na mobilidade urbana do futuro.