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Mesmo com avanço lento, segurança será item fundamental na moto do futuro

Honda Riding Assist: tecnologia em estudo impede que moto tombe após desequilíbrio - Reprodução
Honda Riding Assist: tecnologia em estudo impede que moto tombe após desequilíbrio Imagem: Reprodução

Roberto Agresti

Colaboração para o UOL

27/03/2017 08h00

No mundo do automóvel, o progresso dos dispositivos de segurança é notável. Em uma década, dois equipamentos que eram exclusivos de modelos caros e sofisticados -- os freios ABS e os airbags -- estão presentes em todos os carros à venda no Brasil. E nas motos, o progresso foi equivalente?

A presença de itens como suspensões inteligentes, frenagem autônoma ou outros dispositivos de segurança ainda em desenvolvimento, alguns dos quais nem desconfiamos, serão os itens que o motociclista do futuro deverá valorizar na escolha de sua motocicleta.

Mas colocar airbag em motocicleta não é simples. No aspecto técnico há vários problemas, inclusive o do espaço físico, escasso em boa parte dos modelos. Fora isso há um questionamento sobre a real eficiência protetiva do airbag em motos por causa do posicionamento do condutor.

O motorista está sempre sentado, posição que não varia durante a direção. Nas motos, a natureza do veículo exige uma constante mudança de posicionamento, o que poderia tornar o airbag inócuo ou até perigoso. Isso talvez explique a razão de existir apenas um único modelo de motocicleta em produção com o equipamento: a gigantesca Honda Goldwing acomoda o piloto de modo quase sempre ereto.

Se airbags não servem para incrementar a segurança da moto, o progresso na segurança ativa foi significativo, especialmente no que diz respeito aos sistemas de frenagem.

As famosas três letras -- ABS vem da sigla de "Antilock Brake System", freios antitravamento -- estão cada vez mais presentes na maioria dos modelos assim como os sistemas de frenagem combinada. Independentemente do nome de batismo -- nas Honda é CBS (de "Combined Braking System"), nas Yamaha é UBS ("Unified Braking System") -- visam a mesma coisa: oferecer maior segurança na frenagem.

 

E o futuro?

Recentemente a Honda patenteou um sistema de frenagem autônoma para motocicletas.

A empresa já disponibiliza em alguns de seus automóveis um dispositivo batizado de CMBS (de "Collision Mitigation Braking System", sistema que impede colisões ou reduz seu impacto). Sensor-radar e câmera instalados na parte frontal do carro detectam perigo de colisão e, em caso de falta de ação por parte do condutor, se encarregam da frenagem.

Nas motos, o buraco é mais embaixo: se frear autonomamente um carro implicará em apenas um susto no distraído motorista, a peculiar dinâmica da motocicleta e suas características de condução mais complexas, farão com que uma eventual frenagem independente possa resultar em consequências até piores que a não-frenagem.

Exemplo? O arremesso do distraído condutor por sobre o guidão -- lembrando que em moto não há cinto de segurança e que, em qualquer redução da velocidade, o condutor deve compensar a redução de velocidade com maior força no guidão e nas pernas.

É certo que o registro de uma patente indica que o caminho para a boa resolução técnica de tal dispositivo está em pleno andamento e que as singularidades da moto serão consideradas. Tal notícia é um alento, confirmando que a insana perseguição por mais potência em motores e consequente maior desempenho está dando lugar ao bom senso.

No final dos anos 1980, quando as primeiras motocicletas com freios ABS chegaram ao mercado, as pioneiras BMW K100, muitos torceram o nariz ao sistema e eles não estavam totalmente errados: ao intervir, o ABS de então fazia a alavanca de freio pulsar loucamente, e por causa disso muitos refutaram a vantagem da frenagem sem travamento da roda.

Com o tempo, o sistema foi sendo aperfeiçoado e hoje é unanimidade: toda moto com mais de 125cc vem equipada com ABS, na Europa; no Brasil, 100% das motos acima de 300 cc terão o sistema de 2019 em diante.

Será uma mudança comportamental mais do que necessária, derivada não só de uma nova maneira de conceber a motocicleta e seu uso, mas também da necessária atitude dos novos motociclistas. Mais maduros e ávidos por segurança, mas sem renunciar à mágica e incomparável sensação da conduzir a moto.