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Caçador de Carros

Caçador de carros: já ouviu falar em "resto de rico"?

Guilherme Zauith/Folhapress - 17-05-2012
Imagem: Guilherme Zauith/Folhapress - 17-05-2012

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

18/09/2018 04h00

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Termo para carro de luxo usado com preço de carro comum parece certo, mas esconde desleixo do dono

"O rico não quer ter mais, o pobre não consegue manter". Lembro de ter visto essa expressão pela primeira vez em um blog mineiro, há uns 15 anos. Ele tinha postagens com fotos de carros de luxo abandonados, e a expressão parecia fazer sentido: Alfa Romeo, Mercedes-Benz, BMW, Audi, Volvo e mais uma série de modelos de marcas premium ou de luxo, que eu namorava nas revistas, apareciam ali sem o mesmo brilho de antes.

Achava engraçado, mas ao mesmo tempo deprimente ver carros dos sonhos se deteriorando por conta da negligência de seus donos. E os anos se passaram.

Atualmente, tenho uma percepção mais racional e entendo que isso faz parte do ciclo de vida de qualquer produto. Carros não são pensados para durar para sempre e é natural que os fabricantes estejam a todo momento preocupados em aumentar as vendas de carros novos.

Os sobreviventes que encaram décadas com dignidade são privilegiados, por terem donos que insistem em mantê-los na ativa. Porém, a disposição para isso pode se perder com o tempo. Uma peça impossível de se achar ou que existe a um valor impagável, débitos acumulados que ultrapassam o valor de mercado do carro ou até mesmo desinteresse pelo modelo, tudo isso são causas que dão fim à vida de um carro.

Surge a expressão "resto de rico", curta e cruel, mas que tem basicamente o mesmo sentido daquela frase acima. Eu considero cruel, também porque joga a responsabilidade do dono para o carro.

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Dono é culpado pelo "resto"

Isso acontece com maior frequência com carros de luxo, que geralmente são mais complexos e exigem mais do dono. Chega um momento que ninguém quer mais assumir o risco de ter um carro assim e ele pode ficar esquecido.

Definitivamente, o ciclo de vida deste tipo de carro é menor do que de automóveis de marcas generalistas. Isso afeta diretamente o preço, tanto que é comum encontrar importados antigos pelo mesmo preço de modelos mais comuns fabricados no mesmo ano.

É simples entender a razão disso acontecer. Por exemplo, uma pessoa que está com R$ 15 mil para comprar um carro certamente tem um orçamento limitado para mantê-lo. Comprar um Fiat Palio, não um Volvo pelo mesmo valor, é bem mais racional: a alegria de ter um baita sedã da marca sueca pode durar apenas alguns dias, geralmente até aparecer o primeiro problema, a primeira conta mais alta. Já o "Paliozinho", com toda sua simplicidade, dificilmente ficará parado.

Não é correto chamar a aquele carro de "resto". O carro nada mais é que uma máquina, só ganha vida pela ação do homem, dependendo exclusivamente dele para funcionar corretamente. Assim, o dono que não cuida como deveria é o culpado. Se de fato não tiver condições ou disposição o bastante para manter um carro de luxo, que não cometa o erro de comprar um. É melhor deixar que outra pessoa mais apta encarar o desafio de continuar fazendo história com esse modelo.

Piora quando o novo dono o chama "resto de rico". Por mais que, neste caso, seja praticamente um uso irônico, uma brincadeira, até para contar vantagem, ele está alimentando o subconsciente com a informação de que não é rico e de que aquilo não lhe pertence. Sendo assim, estará sempre se boicotando. Que tal mudar esse preconceito e passar a se considerar um "guardião"?

Guardião da história automotiva

Como consultor, tenho muitos clientes que não são propriamente ricos, mas mantém com muito amor e dedicação carros que estariam abandonados se não fossem por eles. Esses são os verdadeiros guardiões da história automotiva, pois não medem esforços para manter essas joias rodando.

Chamar seu brinquedinho de "resto de rico" é uma ofensa que geralmente vem de quem pensa que gosta de carros, mas na verdade ainda não descobriu sequer a razão de sua existência.

De qualquer forma, vejo um futuro nebuloso para muitos carros da atualidade. Com a popularização da eletrônica embarcada, até mesmo os carros de entrada são recheados de equipamentos interessantes. Porém, fico imaginando como alguns desses equipamentos estarão num futuro não tão distante.

Para ser mais claro, quantas vezes você já trocou de celular nos últimos cinco anos? As centrais multimídias dos carros são muito parecidas com um celular, portanto você consegue imaginar o bom funcionamento delas daqui a 10 ou 20 anos? Provavelmente, não.

Para piorar, algumas englobam outras funções, como controles do ar condicionado, aquecimento de bancos e computador de bordo. Quando o touch screen dessas centrais começarem a dar problemas, a simples tarefa de regular a temperatura do ar condicionado vai depender da solução desse problema.

Tudo leva a crer que os carros atuais serão apenas enfeites nos futuros encontros de carros antigos. Sem nenhuma funcionalidade, perderão o sentido de sua função e serão cada vez mais abandonados por seus donos.