Topo

Falta coragem política para fazer inspeção veicular engrenar

Apesar de lei prever serviço em todo o país desde 97, somente algumas iniciativas isoladas, quase todas com falhas e distorções, foram tiradas do papel - Apu Gomes/Folhapress
Apesar de lei prever serviço em todo o país desde 97, somente algumas iniciativas isoladas, quase todas com falhas e distorções, foram tiradas do papel Imagem: Apu Gomes/Folhapress

Colunista do UOL

10/06/2015 13h17

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado na última sexta-feira (5), teve relativamente pouca repercussão no Brasil. Está certo que os ambientalistas exageram na argumentação e acabam, por vezes, limitando a capacidade de empolgar. Em um país com seríssimas deficiências de saneamento básico, pode parecer excesso de zelo cuidar da limpeza do ar e da “saúde” mecânica e de segurança dos veículos em circulação. Mas não é. No primeiro caso, o cálculo de mortes decorrentes é feito de forma indireta e, de certa forma, discutível; no segundo, o descalabro visto todos os dias salta aos olhos: entre 100 e 140 mortos, dependendo da contabilidade (morte imediata ou por consequência), e seis vezes mais de feridos.

Desde 1997 a Inspeção Técnica Veicular (ITV) está prevista em lei para o Brasil todo. Na prática, porém, quase nada se fez, apesar de algumas tentativas. Perdeu-se muito tempo em discussões sobre se o processo deveria ser federal ou estadual. Venceu a opção estadual, porque o país tem diferentes realidades. Por falta de regulamentação, deu espaço para um arremedo de vistoria (não se pode chamar de inspeção) no Estado de Rio de Janeiro, que na realidade é imposto disfarçado, e a uma controversa inspeção ambiental na cidade de São Paulo, que focava mais em carros novos do que antigos – estes poluem dez vezes mais.

A inspeção de emissões acabou suspensa pela prefeitura paulistana em 2012 e, pelo jeito, não voltará tão cedo. Ideal mesmo seria racionalizar os custos e criar uma ITV com o cronograma correto: começar com veículos a partir do quarto ano de uso, com frequência bienal até o décimo ano e anual para aqueles com mais de uma década de vida útil. Caminhões, ônibus, outros veículos a diesel e motocicletas deveriam ser inspecionados todos os anos, no mínimo a partir do segundo ano de uso. 

Haddad e Alckmin - Marcos Bezerra/Futura Press - Marcos Bezerra/Futura Press
Prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, cobra do governador do Estado, Geraldo Alckmin, que inspeção passe a ser estadual, ou pelo menos que contemple toda a Região Metropolitana da capital; em meio a impasse, serviço está totalmente inativo desde 2013
Imagem: Marcos Bezerra/Futura Press

Jogo de empurra-empurra

O grande problema em São Paulo é político, para variar. Claramente o governo estadual resiste a qualquer tipo de inspeção porque teme perder votos dos eleitores motorizados. A prefeitura, por sua vez, alega a “mobilidade” da poluição ao defender a inspeção ambiental em toda a região metropolitana, não apenas na capital. O projeto municipal acertou na frequência do serviço, porém tem falhas evidentes e, no fundo, mostra viés populista.

Sem resolver esse impasse, nada haverá a comemorar nos próximos dias mundiais do meio ambiente, em particular na cidade brasileira que detém a maior frota real de veículos (seis milhões, incluídas as motos). Olímpio Álvares Jr., engenheiro e consultor da L’Avis Eco-Service, defende essa posição e vai adiante em recente artigo de sua autoria.

“Não se respeitam as leis municipal e estadual de controle ambiental em razão de mudanças climáticas; faltam ônibus a diesel com filtros de particulados ou sua substituição prevista em lei (algo inviável da forma como se legislou); pouco se fala sobre incentivo ao teletrabalho, a fim de racionalizar os deslocamentos; ou se discutem novas fórmulas de pedágio urbano como alternativa ao rodízio por final de placa”, protesta.

Ele lembra ainda que, dentro de um automóvel, motorista e ocupantes podem estar sujeitos a cargas maiores de poluentes até em relação aos pedestres, em especial nos congestionados corredores de trânsito.

Siga o colunista: twitter.com/fernandocalmon 

Roda Viva

  • Anfavea surpreendeu e resolveu assumir números de vendas ao final de 2015 bem piores do que havia previsto antes: agora espera uma queda de quase 21% em relação a 2014. Fenabrave, associação das concessionárias, já sinalizava esse patamar de redução. Produção deve cair 18% e só não está pior porque talvez tenha 1% de aumento em unidades exportadas.
     
  • Maio foi realmente fraquíssimo para a comercialização do setor. Mesmo com o corte severo de produção e 18% dos empregados sem ter o que fazer, viu os estoques caírem apenas um dia (de 52, em abril para 51, em maio), 46% acima do que seria considerado normal. Duas revisões para baixo em apenas cinco meses não costuma ocorrer na entidade dos fabricantes.
     
  • Carros de menor preço estão sofrendo proporcionalmente mais esse duro revés de mercado: marcha à ré equivale a voltar aos números de 2008 a se confirmarem as previsões. Modelos com motor de 1 litro de cilindrada representam até agora 35,5% do total vendido. Na média de 2014 tinham alcançado 36,1%.
  • Fiat 500 Abarth tem procura restrita porque o apelo pela esportividade está em declínio por aqui. Preço tampouco ajuda. Porém, retirando a raspada em lombadas e valetas, mesmo com o cuidado possível, o carro vai além do ótimo desempenho do motor turbo em sua forma pura. Suspensões não são duras demais e até o quadro de instrumentos mudou para muito melhor.
     
  • Funcionou bem a campanha da Agência de Transporte do Estado de São Paulo em favor do uso dos cintos de segurança. Antes 53% dos passageiros negligenciavam esse item no banco traseiro (foco desta iniciativa) e o índice caiu para 48%, ou seja, bem relevante. Repercutiu de forma indireta até nos motoristas: 14% não usavam os cintos e a pesquisa apontou queda para 13%.