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Lobby pelo diesel em carro de passeio começa a ficar sem argumentos

Ambos vêm do petróleo, mas gasolina e diesel são rivais na disputa pelo tanque do seu automóvel  - Shutterstock
Ambos vêm do petróleo, mas gasolina e diesel são rivais na disputa pelo tanque do seu automóvel Imagem: Shutterstock

Colunista do UOL

24/09/2013 20h59

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Embora a atividade de lobby não seja regulamentada no Brasil, nada impede empresas de se juntarem e, legitimamente e às claras, trabalhar por suas propostas. Exemplo recente é a campanha Aprove Diesel, em vínculo muito próximo à SAE Brasil, organização de engenheiros da mobilidade. A entidade congênere, AEA, manteve-se neutra nesse assunto.

De fato, o Brasil é o único país em que uso do diesel em veículos leves não está autorizado por razões, no passado, de origem econômica. A nova campanha quer mudar essa situação e apresenta argumentos técnicos e ambientais no mínimo discutíveis.

Primeiro ao afirmar que motores turbodiesel modernos são muito superiores em termos de consumo de combustível. Este cenário já virou e os números apresentados estão distorcidos. Os de ciclo Otto (gasolina, etanol e flex) tiveram um salto tecnológico e continuarão a evoluir rapidamente.

Ao se comparar motores europeus modernos, de mesma potência, a diferença de consumo de diesel em relação à gasolina caiu de 25% para 12%. Há projeções para menos de 10%. Como um motor a diesel custa até 50% mais, em breve estará inviabilizado na Europa para automóveis menores e baratos. Combustíveis europeus são muitos caros, e isso ajudou na quilometragem mínima anual para amortizar a diferença de custo do veículo (quanto maior e menos acessível, melhor).

Quem acompanha lançamentos constata que novas gerações de motores são quase todas a gasolina, mais baratos de se produzir. Fabricantes europeus despejaram muito dinheiro para "limpar" a sujeira do diesel com ajuda de muletas técnicas e, claro, querem convencer o resto de mundo a entrar nessa aventura.

No Japão e China o diesel é liberado para automóveis, mas sua participação é meramente simbólica. Na vizinha Argentina, há menos de 3%. Nos EUA, só motores a gasolina estão no programa oficial de metas de redução de consumo, o que não deixa de ser uma "discriminação", segundo o lobby de marcas europeias. Diesel é insubstituível em caminhões, razoável para utilitários e SUVs pesados, mas do petróleo vem também a gasolina adequada aos veículos leves.

AMBIENTE
Onde entra o Brasil nessa história? O vilão ambiental do momento é o gás carbônico (dióxido de carbono), e a única forma de combatê-lo é diminuir o consumo de combustíveis fósseis.

O Aprove Diesel esqueceu-se de dizer que as emissões desse gás poderão aumentar aqui, e não diminuir. Etanol de cana-de-açúcar é praticamente neutro em CO2, no ciclo de produção/consumo. Então, automóveis que usam gasolina, com 25% de etanol, quase se equivalem aos a diesel em termos de gás carbônico. E se utilizarem apenas etanol nem dá para comparar, mesmo com nosso atual atraso tecnológico.

Empresas que mostram posição anti-CO2 na Europa mudam o discurso no Brasil. Para dourar a pílula, acenam com a possibilidade de o país produzir biodiesel e diesel de cana. Essas alternativas, porém, são inviáveis economicamente, se sabe não é de hoje. Mesmo o etanol mal consegue competir com a gasolina subsidiada.

Exageros nos argumentos sempre são abomináveis. Há pouco tempo os engajados diziam que o Brasil estava em desacordo com a Declaração Universal de Direitos Humanos, da ONU, ao proibir o acesso dos cidadãos aos avanços do motor diesel. Pode?

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RODA VIVA
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+ Embora a Renault ainda esconda, há planos ambiciosos para o SUV compacto Captur além da importação, no início de 2014. Derivado da arquitetura do atual Clio francês, a empresa estuda nacionalizar o modelo, com simplificações, e lançá-lo aqui como a próxima geração do Duster, em 2016. Afinal, a competição será cada vez maior nesse segmento.

+ Alinhada ao cenário menos otimista para o mercado de veículos este ano, Abeiva (associação de importadores sem fábricas no país) rebaixou as previsões de vendas. Antes, projetava 120 mil unidades entre seus mais de 30 associados. Agora, com resultados até agosto computados, imagina algo em torno de 117 mil unidades, em 2013, independentemente da variação cambial.

+ Caiu o queixo da bancada do diesel, na Europa, após resultado obtido por um Focus com motor 1.0 EcoBoost a gasolina. O carro completou uma viagem em estrada abertas, na Escandinávia, de pouco mais de 1.600 km, com um tanque de 55 litros. Obteve assim, 30,3 km/l, a uma velocidade média de 66,6 km/h, compatível com o tráfego normal.

+ Busca de menor peso nos veículos e economizar combustível chegou também aos vidros. Recurso é comum no automobilismo, pelo uso de acrílico, para ganhar em desempenho. Saint-Gobain Sekurit anuncia o primeiro parabrisa com vidro de menor espessura, mais leve e mesma resistência. Novo produto se enquadra no programa de eficiência energética Inovar-Auto.

+ Mais um avanço técnico, visando menor consumo, foi revelado pela Garrett, fabricante de turbocompressores da Honeywell. Chegará aqui em 2016. Seu funcionamento equivale a de um turbo de geometria variável, com eficiência em qualquer regime de rotação. Esse recurso, até agora, era tão caro que só se aplicava no Porsche 911 Turbo. As coisas mudam...